por Matias Spektor Folha de São Paulo
François Hollande começou a bombardear posições do Estado Islâmico em
setembro de 2014. Um ano depois, bombardeou a cidade de Raqqa,
infligindo dano significativo na organização terrorista. No embalo,
prometeu eliminar campos de treinamento do grupo no Iraque e na Síria.
A ofensiva do governo Hollande coincidiu com derrotas importantes para o
Estado Islâmico. Nos últimos meses, e por motivos que não têm a ver com
a França, a organização perdeu o controle de milhares de quilômetros
quadrados, sendo expulsa das cidades de Mosul e Sinjar. Isso representa
ameaça vital, pois o futuro do grupo depende do domínio de cidades-chave
(Falluja, Palmyra e Ramadi). É nelas que os combatentes encontram
mantimentos, treinam novos quadros, mantêm reféns em cativeiro e
escondem equipamentos e dinheiro.
A onda de ataques dos últimos dias é a tentativa do Estado Islâmico de
virar o jogo. Foi assim em Beirute, na explosão da aeronave russa e em
Paris. Não se trata de fervor radical ou irracionalidade cega, mas de
estratégia calculada.
Com seu espetáculo repugnante, o Estado Islâmico busca recrutar novos adeptos e fidelizar financiadores.
No caso da França, analistas avaliam que o grupo também espera assustar a
população a ponto de fazê-la suspender o apoio às incursões militares
de Hollande (em 2004, um atentado terrorista em Madri provocou a
retirada da Espanha do Iraque).
Em seguida aos ataques em Paris, porém, Hollande redobrou a aposta, formalizando a declaração de guerra.
Chocada, a população francesa assiste ao início de um novo capítulo.
Já é possível identificar quatro problemas fundamentais.
Declarar guerra contra um inimigo sem território definido nem estrutura
de comando clara é temerário porque não há critério preciso para
mensurar o êxito da operação e, em seguida à vitória, bater em retirada.
Declarar guerra sem atravessar o devido debate público nacional a
respeito de custos e riscos cria tantos problemas para o futuro quanto
lançar uma ofensiva militar sem a devida autorização do Conselho de
Segurança das Nações Unidas, precondição para legitimar a inevitável
carnificina que se avizinha.
Declarar guerra sem pôr sobre a mesa a opção clara do uso de tropas no
chão, caso a situação o demande, é receita pronta para o Estado Islâmico
testar a resiliência da França com a arma de que dispõe –o terror.
Por fim, Hollande pode ficar exasperado com a posição de Obama, que
oscila entre a cautela e o estupor. Mas fazer o jogo de Putin sem antes
trabalhar pela união do Ocidente somente facilita a estratégia dos
criminosos.
extraídaderota2014blogspot
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