Jornalista Andrade Junior

domingo, 22 de novembro de 2015

"Método Hollande",

por Matias Spektor Folha de São Paulo

François Hollande começou a bombardear posições do Estado Islâmico em setembro de 2014. Um ano depois, bombardeou a cidade de Raqqa, infligindo dano significativo na organização terrorista. No embalo, prometeu eliminar campos de treinamento do grupo no Iraque e na Síria.
A ofensiva do governo Hollande coincidiu com derrotas importantes para o Estado Islâmico. Nos últimos meses, e por motivos que não têm a ver com a França, a organização perdeu o controle de milhares de quilômetros quadrados, sendo expulsa das cidades de Mosul e Sinjar. Isso representa ameaça vital, pois o futuro do grupo depende do domínio de cidades-chave (Falluja, Palmyra e Ramadi). É nelas que os combatentes encontram mantimentos, treinam novos quadros, mantêm reféns em cativeiro e escondem equipamentos e dinheiro.
A onda de ataques dos últimos dias é a tentativa do Estado Islâmico de virar o jogo. Foi assim em Beirute, na explosão da aeronave russa e em Paris. Não se trata de fervor radical ou irracionalidade cega, mas de estratégia calculada.
Com seu espetáculo repugnante, o Estado Islâmico busca recrutar novos adeptos e fidelizar financiadores.
No caso da França, analistas avaliam que o grupo também espera assustar a população a ponto de fazê-la suspender o apoio às incursões militares de Hollande (em 2004, um atentado terrorista em Madri provocou a retirada da Espanha do Iraque).
Em seguida aos ataques em Paris, porém, Hollande redobrou a aposta, formalizando a declaração de guerra.
Chocada, a população francesa assiste ao início de um novo capítulo.
Já é possível identificar quatro problemas fundamentais.
Declarar guerra contra um inimigo sem território definido nem estrutura de comando clara é temerário porque não há critério preciso para mensurar o êxito da operação e, em seguida à vitória, bater em retirada.
Declarar guerra sem atravessar o devido debate público nacional a respeito de custos e riscos cria tantos problemas para o futuro quanto lançar uma ofensiva militar sem a devida autorização do Conselho de Segurança das Nações Unidas, precondição para legitimar a inevitável carnificina que se avizinha.
Declarar guerra sem pôr sobre a mesa a opção clara do uso de tropas no chão, caso a situação o demande, é receita pronta para o Estado Islâmico testar a resiliência da França com a arma de que dispõe –o terror.
 Por fim, Hollande pode ficar exasperado com a posição de Obama, que oscila entre a cautela e o estupor. Mas fazer o jogo de Putin sem antes trabalhar pela união do Ocidente somente facilita a estratégia dos criminosos.
extraídaderota2014blogspot

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