por José Anibal Com Blog do Noblat - O Globo
Por mais engenhoso criador de enredos que seja, o ex-presidente Lula
ainda terá de explicar como, de forma súbita e concatenada, todas as
grandes investigações em curso no país se aproximam de intermediários
diretos dele. Seja na Lava Jato ou na Zelotes, todos os caminhos parecem
levar a Lula.
José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente com passe livre nos gabinetes
do Planalto, foi citado como intermediário de propinas investigadas
pela Lava Jato, supostamente para favorecer familiares de Lula. Há
também suspeitas de quitação de dívidas de campanha por meio de acerto
em contratos na Petrobras.
Na operação Zelotes, que investiga propinas no CARF (Conselho
Administrativo de Recursos Fiscais), a Polícia Federal, a pedido do
Ministério Público, fez buscas na empresa de um dos filhos de Lula por
suspeitas de que o recebimento de 2,4 milhões esteja relacionado à
compra de Medidas Provisórias por lobistas a serviço de setores da
indústria automotiva.
Na nova fase da Zelotes, realizada na última segunda-feira, o ex-chefe
de gabinete e homem forte do governo Lula, Gilberto Carvalho, foi
conduzido à Polícia Federal para prestar esclarecimentos sobre indícios
de atuação como intermediário entre esses grupos de interesse e o
Palácio do Planalto.
A julgar pelas supostas reações do ex-presidente descritas pelos
jornais, Lula recebeu como verdadeiro desaforo o avanço das
investigações sobre seus homens de confiança. Não faltaram impropérios
contra sua cria, a presidente Dilma Rousseff, ou contra seu saco de
pancadas predileto, o melífluo José Eduardo Cardozo.
As acusações e suspeitas de favorecimento à família Lula da Silva não
são novidade no noticiário dessas operações. Vale lembrar a persistente
falta de esclarecimento acerca das reformas de um apartamento tríplex no
Guarujá e de um sítio utilizado pela família, feitas por empresa
investigada no propinoduto da Lava Jato.
Confirme-se ou não as suspeitas de favorecimento pessoal do
ex-presidente por meio de suas atribuições de Estado, duas conclusões já
podem ser tiradas de todo esse imbróglio institucional. E nenhuma é
necessariamente alvissareira ao eleitorado brasileiro, já tão cansado de
sua classe política.
A primeira é a extrema permeabilidade do grupo político no poder à
influência de interesses corporativos. O relacionamento, ficou claro,
não se dá de forma institucional, mas por meio dos que têm acesso ao
poder. O teatro de sombras engolfa o princípio da publicidade na
administração pública. Por coisa boa é que não pode ser.
A segunda é a insistência do discurso segundo o qual as instituições
precisam ser politicamente controladas para não fustigar os donos do
poder. Esse tempo, felizmente, já passou. Lutar contra os avanços dos
costumes políticos no Brasil é inútil. Por mais que Lula se esforce, a
história não andará para trás. Avancemos.
extraídaderota2014blogspot
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