EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
Depois de vários dias calculando e recalculando a profundidade do buraco em que se meteram as contas públicas, o governo comunicou oficialmente ao parlamento a revisão para baixo da meta fiscal. Desta vez, a previsão parcial é de que as contas fechem no vermelho, com deficit primário (despesas maiores do que as receitas, sem contar a conta dos juros da dívida) de inéditos R$ 51,8 bilhões. É normal e correto o procedimento, já que cabe ao governo monitorar ao longo do exercício a eventual necessidade de rever a meta, conforme a Lei de Responsabilidade Fiscal.
Inaceitável é chegar a esta altura do ano com tamanho saldo negativo e, pior ainda, saber que esse não é o número final do desastre fiscal de 2015. Ocorre que o valor não inclui o pagamento das pedaladas fiscais - atraso de pagamento dos recursos adiantados pelos bancos públicos aos programas sociais -, consideradas ilegais pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
O governo espera que o TCU defina se as pedaladas do ano eleitoral de 2014 poderão ser pagas em parcelas. Se o governo tiver de quitá-las de uma só vez, o furo de 2015 salta para perto de R$ 80 bilhões. É rombo para comprometer de vez os orçamentos deste e do próximo ano.
Está longe demais, portanto, a primeira promessa do segundo governo Dilma: gerar superavit primário em seu primeiro ano de R$ 66,3 bilhões, equivalentes a 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB). Em agosto, quando a meta foi reduzida a R$ 8,7 bilhões, ou 0,15% do PIB, o governo provocou forte abalo em sua credibilidade. Como será agora, que, mesmo sem a conta das pedaladas, a meta é rebaixada para um recuo de 0,8% do PIB?
A situação é, portanto, muito pior do que supunham os mais pessimistas. Afinal, o deficit ocorre apesar de o governo já ter aumentado vários tributos, como os que incidem sobre combustíveis, bebidas e refrigerantes, cosméticos e automóveis. Taxou ainda mais o resultado das empresas e as folhas de pagamento de pessoal. Além disso, reduziu benefícios sociais e trabalhistas e fez dois bloqueios de verbas orçamentárias, um de R$ 66,9 bilhões e outro de R$ 8,6 bilhões, que podaram investimentos e não pouparam áreas como as de saúde e educação.
Ou seja, o buraco é tão fundo que soa ridículo culpar a crise internacional. É, sim, o preço que os brasileiros são chamados a pagar pela farra de gastos proporcionada pelo abandono, nos últimos anos, de parâmetros que tinham garantido a saúde da economia brasileira, como o rigor fiscal e a intolerância com a inflação acima do centro da meta. Infelizmente, a tendência não é de melhora. Enquanto as chefias do governo e do Congresso se engalfinham em disputas em torno da própria sobrevivência política, o tempo corre contra a economia e a sociedade brasileiras.
EXTRAÍDADEAVARANDABLOGSPOT
0 comments:
Postar um comentário