editorial de O Globo
O governo federal anunciou sanções à mineradora Samarco pela tragédia
ambiental em Minas Gerais. Decisão legítima, baseada na legislação de
proteção ambiental e nos danos à sociedade. A presidente Dilma Rousseff
deu ênfase ao valor da sanção prevista: R$ 250 milhões em “multas
preliminares", advertindo que “ainda poderão ser contempladas várias
outras", conforme disse ontem, durante visita às regiões afetadas em
Minas Gerais e no Espírito Santo, na companhia dos governadores mineiro,
Fernando Pimentel (PT), e capixaba, Paulo Hartung (PMDB).
É bom que governantes abandonem o conforto de seus gabinetes em momentos
de infortúnio coletivo. Se a iniciativa tem caráter político relevante,
também condimenta o debate sobre o papel e a responsabilidade dos
governos.
No entanto, Minas registrou quatro tragédias por rompimento de barragens
nos últimos quatro anos. O Banco de Declarações Ambientais da Feam
registra 693 barragens com estabilidade “garantida”, enquanto outras 29
estão com estabilidade “não garantida" e 13 ainda sem conclusão de
auditoria.
A frequência de rompimentos indica necessidade de revisão dos critérios
de construção de barragens, assim como revela uma debilidade de ação do
poder público na fiscalização.
Mostra ainda a incapacidade dos governantes na formulação e execução
eficaz de uma política nacional de defesa civil. A área mais afetada
pelo desastre da Samarco em Mariana (MG) não possuía um simples sistema
de alarme — o que poderia ter poupado muitas vidas.
O panorama em todo o Vale do Rio Doce diz muito sobre a presidente, os
governadores e prefeitos indecisos na construção coordenada de serviços
emergenciais para proteção da população em situações de catástrofe.
Na esteira da lama tóxica, que a partir de hoje deve atravessar o
Espírito Santo, veem-se também os sinais de incúria de sucessivos
governos empenhados na atração de investimentos industriais, o que é
salutar, mas a qualquer custo, o que é nefasto.
Financiaram com incentivos fiscais e creditícios empreendimentos com
escassa preocupação sobre o impacto das atividades na vida das
comunidades e do meio ambiente.
A lição da tragédia da Samarco vai muito além das multas. É evidente a
responsabilidade dos governos Dilma, Fernando Pimentel e Paulo Hartung.
Deveria servir a uma ruptura, por iniciativa dos governantes, com
práticas e políticas obsoletas. Para que não se repita.
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