por Mary Zaidan Com Blog do Noblat - O Globo
A presidente Dilma Rousseff e o presidente da Câmara dos Deputados,
Eduardo Cunha, passaram boa parte da semana batendo boca. Ambos com
razão nas frases feitas. E absoluta falta dela na virulência e ausência
de senso. Roto falando de esfarrapado, provérbio que nos últimos tempos
insiste em ditar a política.
Dilma fala mal de Cunha. Cunha de Dilma. Lula já fala mal de Dilma em
público. Dilma, privadamente, de Lula. Um culpa o outro da culpa que
cada um tem. A oposição arrota dignidade e usa os métodos que dizia
condenar. Tenta preservar Cunha para imolar Dilma.
Mas se ainda não há vencedores na disputa entre o sujo e o mal lavado, é
impossível esconder as sucessivas derrotas que essas
irresponsabilidades impõem ao país.
Indicador algum é capaz de dar alento. Nem para o futuro próximo, muito
menos para o presente. Difícil enxergar possibilidades de conserto na
economia, quanto mais na sem-vergonhice que, contam-se nos dedos as
exceções, virou método de fazer política.
A inflação continua subindo, os investimentos caindo, a recessão
agudizando. Em 12 meses, 1,24 milhões de vagas de emprego formal foram
engolidas pela crise, pior número desde que se iniciaram as medições, em
1992. Um retrocesso de mais de mais de duas décadas na oferta de
empregos, pilar de qualquer avanço social.
Depois de gastar o que não tinha e o que não sabia se algum dia iria ter
para se reeleger, Dilma teria de arrumar mais de R$ 70 bilhões só para
fechar o ano de 2015. Ainda assim, a presidente freou arrumações
internas, como o corte de 3 mil cargos comissionados, para poder
distribuir aos aliados em troca – sem qualquer garantia – de se manter
no terceiro andar do Planalto.
Registra-se que os cortes anunciados com pompa e circunstância pela
presidente só valerão – se é que de fato vão valer – a partir de
novembro. Tanto a redução dos míseros 10% dos salários dela e dos
ministros quanto o fim das mordomias de primeira classe em aviões e
carros de luxo. Algo que, de fato, não passará perto da presidente, que
viaja em jato privativo, e de vários de seus auxiliares, que requisitam
aviões da FAB para seus deslocamentos.
O tema chegou a frequentar o plenário do Senado. De novo, viu-se o roto,
que acaba de licitar uma frota nova de veículos de luxo para os 81
senadores, abrindo o bico para um governo espandongado, que continua
hospedando Dilma com luxos de princesa em cada viagem que faz.
Agindo como quem beira o fim da linha, nos dois meses que faltam para
terminar ano Dilma agendou compromissos na Arábia Saudita, Vietnã,
França, Emirados Árabes, Argentina e Japão. Pelo jeito, prefere ficar
longe da encrenca Brasil, gastando por conta.
Por sua vez, a oposição esbraveja contra o roto e esgarça cada vez mais
os seus farrapos. Alia-se às sujeiras de Cunha e joga fora créditos que
tinha obtido com a derrocada política de Dilma e do PT.
De forma mal ajambrada, repete a lambança que fingia condenar. Faz o
diabo para impedir Dilma, que, confessamente, fez o diabo para se
reeleger.
Na CPI da Petrobras, aquela que concluiu que o problema da estatal não é
a roubalheira, mas a delação premiada, nem a mentira dita por Eduardo
Cunha – “não tenho conta no exterior” – foi rechaçada pelo PSDB. Uma
vergonha.
Diante da imundice de quem prefere continuar sem se lavar, a utópica
ideia do ministro do Supremo, Marco Aurélio Mello, de renúncia coletiva
faz cada dia mais sentido. Seria a chance de, ao lado da Lava-Jato,
lavar o país.
extraídaderota2014blogspot
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