VALENTINA DE BOTAS
À época da fala delirante, o galope insano do EI forçara o pastoso e pacifista Obama a lançar o velho país cansado de guerra numa costura delicada com os sauditas, cerzindo uma relação sedimentada, mas ferida por serem sauditas 15 dos 19 terroristas do 11/09/2001 e pelo apoio dos americanos à infértil primavera árabe, deixando na mão o queridinho da Arábia Saudita, Hosni Mubarak; com os sírios sem fortalecer, mas também sem derrubar Assad apesar da pressão saudita para eliminar o açougueiro sírio; com os sunitas, mas sem provocar os xiitas.
Tudo com a certeza de que os ataques deteriam os demônios por algum tempo apenas, porém justificável mediante a omissão impensável. As atitudes de Dilma serviram ao gozo dos intoxicados de relativismo e ao agravamento do raquitismo intelectual e moral de quem, sem conseguir alcançar uma biografia, passa à história com o mero diagnóstico de farsante crônica. Uma injustiça, pois a conduta da farsante como ministra e presidente merece o copioso registro numa vistosa ficha policial se Rodrigo Janot não visse apenas em Eduardo Cunha o que se recusa a enxergar na farsante.
A fala de Dilma em Nova York na época das eleições enxertava na agenda/custos da presidente atos da campanha, prática herdada do jeca no antirrepublicanismo crônico do PT. À forma abjeta somou-se o conteúdo intolerável na equiparação do EI a um interlocutor que não quer interlocução, mas a destruição da civilização pelas virtudes que ela tem a pretexto de combater os vícios dela. Para a coerência da inominável política externa, o governo que declarou guerra à passiva oposição doméstica, queria papo com terroristas que chocam outros terroristas numa porção do mundo abundante em predadores do humano.
É perturbadora a afinidade entre os porcos fundamentalistas que não admitem a existência do outro – qualquer outro e da alteridade, portanto – e a do regime lulopetista que não admite a existência de opositores e se aborrece com a democracia e esse acidente da modernidade chamado indivíduo. A guerra contra os demônios que querem exterminar a civilização com tudo dentro já começou. Provavelmente as liberdades e outras de nossas conquistas se restrinjam por algum tempo para que nos salvemos em lutas imperfeitas, na aplicação do que Churchill chamou de “fazer mais do que o possível: fazer o necessário”.
A anemia da nota da presidente sugere que o mundo talvez não possa contar com o governo brasileiro, mas há quase 14 anos nem o Brasil pode: amargamos, entre outras amarguras, um “13 de novembro” diário nos 143 assassinatos que fazem sombrio o cotidiano do país envergonhado e desimportante sob uma farsante que lhe é indiferente.
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