por Arnaldo Jabor O Globo
Faltam-me palavras para dar conta do que está acontecendo no Brasil. Eu
nunca vi o país assim. Já vi crises violentas como a morte de Getúlio ou
o golpe militar, mas esta tem uma característica diferente; é pastosa,
uma areia movediça que engole tudo.
O que é uma crise? Digamos que um projeto político ou empresarial
quisesse chegar a determinado objetivo. Corria um risco. Se não desse
certo, teríamos uma crise. Era a época dos riscos. Hoje vivemos na
incerteza, porque não sabemos como agir.
Hoje, a crise é sonâmbula — como chegar e onde chegar? O grave é que
esses impasses estão eliminando os instrumentos institucionais da
democracia.
O Congresso brasileiro é chefiado por dois sujeitos investigados com
provas e recibos por crimes na Lava-Jato, e também o Renan quando fugiu
para não ser cassado pela evidência de suas jogadas. E hoje preside o
Senado. Conta isso para um alemão, um inglês, e eles não acreditarão.
O Brasil está se esvaindo em sangue por causa de um cabo de guerra entre
Dilma e Cunha, em amor e ódio, em busca de proteção mútua: “Você me
salva do impeachment e eu tento evitar sua cassação”. O Brasil está
paralisado porque o Cunha está mandando no país, porque detém o poder de
chantagear todo mundo, mesmo denunciado até pela Suíça (que chic!).
Como pode o Legislativo estar nas mãos desses caras? Parece não haver
um só lugar onde não haja roubo. Na saúde, na merenda escolar, na
educação.
O Brasil está encurralado entre uma flébil tentativa de ajustar as
contas públicas e o ajuste sendo usado como moeda de troca. O Congresso
está bloqueando nossa recuperação. O Brasil está sendo chantageado. “Se o
Brasil não me atender, eu destruo o Brasil.”
Antigamente o segredo era a alma dos negócios espúrios. Hoje os mais
sujos interesses são expostos à luz fria de um bordel. Está tudo em
nossa cara.
Sempre houve roubalheira, considerada apenas um “pecado” e era uma
roubalheira setorial, descentralizada, e não esta coisa sólida, extensa,
onipresente. Tudo o que já apareceu nessa extraordinária ressurreição
do Judiciário, por conta dos competentes juízes e procuradores, será um
troco, uma mixaria quando chegarem ao fundos de pensão, ao BNDES e a
outras empresas públicas.
A política está impedindo a política. Mentem e negam o tempo todo e não
desmoralizam a verdade apenas; estão desmoralizando a mentira. São
patranhas tão explícitas, tão cínicas que desmoralizam a mentira. O
óbvio está escondido debaixo da mesa. O óbvio está no escuro, o óbvio
está na privada. Quanto à verdade, é fácil descobri-la: ela é o
contrário, o avesso de tudo que políticos investigados afirmam.
Ninguém acredita mais no que o Lula fala (só pobres analfabetos e
intelectuais imbecis), ninguém acredita mais no que a Dilma gagueja sob o
som dos panelaços, nem no Renan, no Cunha, mas o show continua. Há um
complô de enganação da sociedade. Por quê?
Porque a sociedade para eles é um bando de idiotas que precisam ser
tutelados pelo Estado de esquerda ou enrolados pelos oligarcas privados.
Esse foi nosso pior destino: a união entre a chamada esquerda e a velha
direita.
Dilma não sai nem morta, ela disse. Cunha não sai nem morto. E os dois
em confronto encurralam o país numa briga de foice. São demitidos 3 mil
por dia e o total geral de desempregados já está em 1 milhão e 200 mil
de pobres vítimas desse prélio de arrogância e narcisismo. Teremos um
déficit fiscal de R$ 70 bilhões. E tudo bem? No Congresso ninguém liga.
Dane-se o país, quero o meu...
Faltam-me palavras. Que nome dar por exemplo a esse melaço de gente que
odeia reformas e o novo? Que medula, que linfa ancestral os energiza,
que visgo é esse que gruda em tudo? É uma pasta feita de egoísmo,
preguiça, herança colonial, estupidez e voracidade pura. Que nome dar? A
gosma do Mesmo?
O dicionário não basta para descrever uma figura como o Cunha, cuja
aparência não engana. Ele é o que parece, nunca vi um desenho tão
perfeito de uma personalidade. O povo vê horrorizado sua carantonha e
seu bico voraz e percebe que está diante do mal. O povão não entende
muito, mas tem sensibilidade. Cunha é a cara do pesadelo brasileiro. E
tantos outros, escondidos por sorrisos, cabelinhos de acaju ou de asas
da graúna.
Nós jornalistas e comentaristas tentamos ver algum ângulo novo na crise
atual, mas já estamos nos repetindo, martelando o óbvio. Todos os
artigos parecem um só. Eu busco novas ideias, novas ironias para
esculachar essa vergonha, mas ela é maior que as palavras.
Falamos, falamos e não descobrimos o essencial: como é que essa porra vai acabar?
O Brasil estava entrando no mundo contemporâneo com uma nova visão de
economia e gestão e vieram esses caras e comeram tudo, como as porcadas
magras quando invadem o batatal. Essa crise é terrível porque é uma
caricatura. É crise do superficial, do inerte, da anestesia sem
cirurgia. A crise é um pesadelo humorístico. A crise não merece
respeito. Sei lá, a depressão de 29 foi uma tragédia real. Esta nossa é
uma anedota.
Ela foi criada artificialmente por essa gentalha que tomou o poder e
resolveu ser contra “tudo isso que está ai”. Quem estava aí era o
Brasil. Eram as conquistas da democracia, essa palavra que eles usam com
boquinha de nojo, apenas como pretexto, como estratégia para a tal
“linha justa”.
Como dizia o Bobbio: “O que mais une o fascismo e o comunismo é seu ódio à democracia.”
O que provocou tudo isso? Foi o populismo endêmico, o patrimonialismo
secular, a ignorância histórica. E esse sarapatel pariu um sujeito
despreparado e deslumbrado consigo mesmo, cujo carisma de operário
fascinou intelectuais babacas e comunas desempregados desde 1968, que
resolveram fazer uma revolução endógena, um “gramscianismo” de
galinheiro.
O PT está arrasando o país. Essa é a verdade. Temos que dar nome aos
bois, ou melhor, ao boi. O causador disso tudo que nos acontece e que
poderá durar muito tempo foi o Lula.
Sim. Esse homem que nunca viu nada, que não sabia de nada é o grande
culpado da transformação. Mas, o MPF e a Polícia Federal estão chegando
perto dele e de suas ocultações. Ele é o boi.
extraídaderota2014blogspot
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