RODRIGO CRAVEIRO CORREIO BRAZILIENSE
No mais recente capítulo do bizarro controle da máquina pública, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) emitiu veto branco ao nome do ex-ministro da Defesa Nelson Jobim para chefiar a missão de observadores da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) durante as eleições parlamentares de 6 de dezembro. O pleito é considerado crucial para as pretensões de Maduro de manter rédeas curtas no controle de uma nação que caminha ao abismo social, político e econômico. Todas as análises indicam que o oficialismo vai perder maioria na Assembleia Nacional, tornando difícil a governabilidade do Palácio de Miraflores.
A diplomacia do Brasil, como de costume, preferiu o silêncio. Afinal de contas, o Palácio do Planalto está ligado ideologicamente ao regime chavista e, ainda na era de Chávez, tratava o então presidente como líder populista nato, uma espécie de voz ressonante de boa parte das políticas também defendidas pelo Partido dos Trabalhadores (PT). Com a morte do comandante, Maduro herdou a simpatia do governo esquerdista brasileiro. O Brasil tem fechado os olhos para violações de direitos humanos, prisões arbitrárias, repressões brutais durante protestos, torturas no cárcere. E esquece que parte do que ocorre na Venezuela parece uma réplica - guardadas as devidas proporções - dos anos de chumbo no próprio território brasileiro.
O silêncio equivale à cumplicidade. É inegável que a própria prisão e a condenação de López foram arbitrariedades que apontam para perseguição política. Uma nação da estirpe do Brasil, que se julga gigante - apesar de afundado na corrupção e na inépcia de seus governantes -, não deveria fechar os olhos para abusos cometidos pelo vizinho. Muito menos sob a justificativa de evitar ingerências em assuntos da Venezuela por receio de ofender um "amigo" (leia-se: parceiro comercial e dono das maiores reservas petrolíferas do planeta, com 299,9 bilhões de barris). Algumas vezes, o dinheiro cega, emudece e trai qualquer senso de lógica.
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