Tânia Monteiro Estadão
Dois dias depois de se ver obrigado a demitir o Comandante Militar do Sul, general quatro estrelas Antonio Hamilton Martins Mourão, e transferi-lo para a Secretaria de Economia e Finanças do Exército, em Brasília, por conta de declarações de cunho político nas quais pregou o “despertar de uma luta patriótica” e disse também que “a vantagem da mudança (da presidente da República) seria o descarte da incompetência, má gestão e corrupção”, o Comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, concedeu entrevista ao Estado na qual avisou que quem fala pela Força é ele. Mas defendeu que “militar pode falar” e “tem de falar”, ressalvando, no entanto que “cada um na sua esfera de atribuição”. O general advertiu que “em questões institucionais, quem se manifesta é o comandante”.
O general Villas Bôas reconheceu que “há uma crise ética no País” embora ressalve que a chegada do PT ao poder “não tem responsabilidade nisso”. Disse também que “a corrupção está instalada no Brasil”, mas ressaltou que todas as instituições estão em pleno funcionamento e que “não há chance” de intervenção politica dos militares.
A demissão do general Mourão foi uma punição exemplar?
Trata-se de um oficial reconhecido na Força, que tem todo o respeito do comandante. Mas esta questão não pode ser abordada de maneira simplista. Em momento conturbado, não é desejável nada que produza instabilidade ou insegurança. A nossa preocupação é de cooperar para manutenção da estabilidade para que as instituições possam cumprir seus papéis e caminhar em direção à solução da crise em nome da sociedade. Foi isso que nos moveu, para que nenhum movimento venha gerar insegurança ou instabilidade. Essa movimentação (do general Mourão) teve o sentido de mostrar que toda e qualquer manifestação do Exército tem de ser institucional.
Se outros militares da ativa fizerem declarações como essa podem sofrer punições semelhantes?
Não há como estabelecer um parâmetro rígido de comportamento porque tudo depende do contexto, do teor, da conjuntura. Mas, de uma maneira geral, sim. Manifestações tanto em um sentido, quanto em outro, não são desejáveis. Institucionalmente quem se manifesta em nome do Exército é o comandante.
Militar não deve falar?
Militar tem de falar, pode falar. É lógico que, cada um na sua esfera de atribuição e nas questões institucionais, quem se manifesta é o comandante. A sociedade brasileira se desacostumou a ouvir os militares e sempre que os militares se manifestam isso causa alguma reação, repercussão, e não deve ser assim. O segmento militar faz parte da sociedade e do Estado e tem um papel muito importante.
Diante desta crise toda que vivemos no País, qual é o papel dos militares?
O Exército passou 14 meses como força de pacificação na Favela da Maré porque havia risco de crise social e o Exército foi chamado a intervir. Não há alarmismo nisso. É uma situação prevista na Constituição. Tanto é que fomos empregados, na Maré, no Alemão, em terra indígena em Mato Grosso. E nos preocupa sim porque se a crise econômica prossegue, o desempego, a falta de perspectiva, é natural que isso acabe se transformando em um problema social e problema social se se agrava, se transforma em violência, e se se transforma em violência, passa a nos dizer respeito diretamente. Este é o papel constitucional do Exército e isso não manifesta nenhuma intenção de quebra de institucionalidade. Nosso papel é manter a estabilidade e nos preocupa qualquer coisa que venha eventualmente a quebrar esta estabilidade
O presidente da CUT convocou a população a pegar em armas e ocupar trincheiras para defender o mandato da presidente…
Este tipo de manifestação nos preocupa porque se trata de incitamento à violência. Ela não contribui para a estabilidade do País e a normalidade do funcionamento das instituições. Mas é algo que diz respeito à segurança publica diretamente. Então nos preocupa mas, de maneira nenhuma, vai provocar nossa atuação.
O sr. teme que, caso o Congresso decida pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff haja uma convulsão social e o Exército tenha de entrar?
O Exército deve estar preparado para qualquer emprego previsto na Constituição.
Um presidente da Câmara dos Deputados acusado de vários crimes é um problema?
Esse é um problema que toca diretamente e deve ser solucionado no ambiente do Legislativo. Não faz parte das atribuições do Exército.
Há uma crise ética no País?
Há uma crise ética no País. Inclusive, eu acho interessante que está muito comum, muito mais do que se pensa, as pessoas nos demandarem, exigir que o Exército tome providências para solucionar a crise. Mas as pessoas estão demandando, na verdade, são os valores que as Forças Armadas encarnam e representam e que a sociedade está carente. E há a percepção que sem a restauração destes valores é difícil que o Brasil recupere trajetória de evolução, do progresso e do desenvolvimento.
A chegada do PT ao poder tem responsabilidade nisso?
Não, absolutamente. Essa crise ética da sociedade brasileira é um processo que não se instaura de um momento para o outro. Isso já vem de algum tempo. Nem mesmo a autoridade da professora na sala de aula está sendo mais reconhecida. A questão ética se agravou, mas paralelamente as instituições tem cumprido com muito mais eficiência e visibilidade os seus papéis.
O sr. concorda com a ideia de que a corrupção está instalada no Brasil ou não?
Concordo. Mas eu diria que este é um estado de coisas que nós vivemos. Durante a Operação Pipa, no Nordeste, 60% dos 6800 caminhoneiros que trabalham na distribuição de água tentaram algum tipo de fraude. Não se trata de estigmatizar os caminhoneiros. Não é isso. Os caminhoneiros fazem parte da sociedade brasileira. São práticas que se tornaram comuns na sociedade e isso é a base de uma pirâmide . A medida que vai subindo, vai se potencializando.
extraídadatribunadainternet
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