e outras seis notas de Carlos Brickmann Publicado na Coluna de Carlos Brickmann
O mais importante líder sindical que o Brasil já teve chegou a presidente da República, elegeu a sucessora, virou personagem internacional, viajou o mundo inteiro. Mas, ao completar 70 anos, ontem, tudo o que não queria de presente era mais uma viagem. E há chances ─ não muitas, diga-se ─ de que seja a Curitiba.
Data redonda e triste: até o frango com polenta marcado para seu restaurante preferido dos tempos antigos foi cancelado, diante dos problemas que o afligem. Só sobrou festa chique, com a presidente. A busca e apreensão nos escritórios do filho Luís Cláudio, na véspera do aniversário, foi um golpe tremendo. Amigos atingidos, tudo bem, deixa pra lá: Lula esqueceu companheiros próximos, a quem chamava de Guerreiros do Povo Brasileiro, e chegou a insinuar que o empresário José Carlos Bumlai, que tinha entrada livre no Palácio durante seu governo, não era tão amigo assim. Mas filho é filho ─ e é o segundo a virar alvo de suspeitas.
É duro sentir que, exceto os alucinados do lulismo a todo custo (e, muitas vezes, a que custo!), até parceiros antigos, dos tempos anteriores ao Romanée-Conti e aos jatos executivos, hesitam em jurar por ele.
O jornalista Ricardo Kotscho, lulista da velhíssima guarda, amigo fiel e excelente assessor de imprensa de seu governo, escreveu frases reveladoras (http://noticias.r7.com/blogs/ricardo-kotscho/): “Estou muito triste com tudo isso que está acontecendo, mas na vida a gente colhe o que plantou, de bom ou de ruim, de acordo com as escolhas que fazemos. De nada adianta colocar a culpa nos outros”.
D’além-mar
Quando foram revelados em Portugal os problemas do Banco Espírito Santo, houve quem dissesse que poderiam atingir pai e filho. Agora só falta o pai.
Da Mitologia
Diziam os sábios gregos que, quando os deuses querem destruir alguém, atendem a seus desejos. Pois desde 26 de março de 2015, data do início da Operação Zelotes, a tropa de choque do governo reclama da imprensa a pouca cobertura às investigações.
Com a busca e apreensão no escritório de Luís Cláudio Lula de Silva, a tropa de choque do governo já não tem do que se queixar.
Inferno astral 1
Lula elegeu o poste e a posta, ambos mal nas pesquisas de opinião pública (Dilma até melhorou um pouquinho, passando de 7,7% para 8,8% de aprovação, pelo levantamento da CNT-MDA ─ ainda assim, seus índices continuam abaixo da taxa de inflação). A Lava-Jato colocou o PT na defensiva e atribui parte do financiamento da campanha petista a dinheiro público, via propinas; as contas do governo foram rejeitadas pelo Tribunal de Contas da União; ambos os casos podem levar ao impeachment. Lula foi duramente atingido. Depois de deixar o governo com 83% de aprovação, em 2010, enfrenta hoje a rejeição de mais da metade do eleitorado: 55% dizem que não votariam nele de jeito nenhum.
Tudo bem, faltam três anos para as eleições, as coisas podem mudar, os adversários também têm rejeição recorde. Mas o político novo que vinha para mostrar que era diferente de todos luta hoje apenas para provar que não é pior que os antigos.
Inferno astral 2
Os adversários de Lula também vão mal; mas o juiz Sérgio Moro vai muito bem. Num evento da revista britânica The Economist, em São Paulo, ontem, foi aplaudido de pé pela plateia de empresários. Se quiser ser candidato, é forte.
E a lista dos que o rejeitam, se for divulgada, vai ajudar a popularizá-lo.
O Mudo falante
Uma das principais forças militares brasileiras homenageou anteontem o coronel Brilhante Ustra, que morreu há poucos dias. A comandanta-chefe das Forças Armadas, Dilma, deve ter odiado; Brilhante Ustra sempre foi um de seus demônios. Mas nada disse. Na ditadura, Ustra chefiou o DOI-Codi, centro da repressão política, de tortura e de mortes.
Porém, mesmo que nada houvesse contra ele, a homenagem teve cunho político que o Exército, o Grande Mudo, deve evitar. E não evitou ─ ao contrário. A Divisão Encouraçada, 3ª Divisão do Exercito, comandada pelo general José Carlos Cardoso, fez até convites especiais. Em curto período, é a terceira vez que o Grande Mudo se manifesta, depois de 20 anos de silêncio. O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, foi o primeiro a falar, considerando “preocupante” a situação do país. O general Antônio Mourão, comandante militar do Sul, criticou os políticos em geral e disse que “mudar é preciso”. Enquanto o Mudo fala, o ministro da Defesa, Aldo Rebelo, se mantém em obsequioso silêncio.
Talvez entenda a linguagem do Mudo.
O ministro silente
Aldo Rebelo, ministro da Defesa, tem múltiplos interesses. Luta pela substituição do Dia das Bruxas, invenção americana, pelo Dia do Saci; é contra invenções que reduzam a necessidade de trabalhadores. Rejeita palavras estrangeiras. E que fazem seus companheiros da base aliada? Em São Paulo, o prefeito petista Fernando Haddad abençoa um evento que, segundo sua divulgação, é “hipster”, tem “music jam sessions”, “food trucks” e “workshops”.
Mas, se o ministro não se manifesta nem nos eventos em sua área, vai dizer o que no setor dos outros?
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