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07:05
ANDRADEJRJOR
ELIO GASPARI FOLHA DE SÃO PAULO
A Polícia Federal pegou a quadrilha que resolvia litígios tributários do andar de cima na burocracia da Fazenda
Junto
com a blitz da Polícia Federal em cima da quadrilha que operava no
Conselho Administrativo de Recursos Fiscais, o Carf, vem uma boa
notícia: ao contrário do que sucedeu na Lava Jato, na qual a Petrobras e
as empreiteiras relutavam em colaborar com a investigação, desta vez há
centenas de auditores da Receita querendo contar o que sabem, o que
provam e o que denunciam há anos.
Através dos tempos e com outros
nomes, o Carf é uma espécie de instância especial para grandes vítimas
da Receita. Um lambari apanhado na malha fina acha melhor pagar do que
discutir. Uma grande empresa recorre e acaba no Carf. Lá, seu recurso é
julgado por turmas presididas por servidores da Fazenda e compostas por
três outros servidores, mais três representantes do sindicalismo
patronal. Nenhum outro país digno de menção tem um sistema semelhante.
No
Carf tramitam 105 mil processos com R$ 520 bilhões em autuações
contestadas. A porca torce o rabo quando auditores viram consultores e
ligam-se a escritórios de advocacia que militam junto ao Conselho. A PF
já achou 70 processos com desfechos suspeitos. Nove extinguiram
cobranças que iam a R$ 6 bilhões. Se procurarem direito acharão cinco
cobranças que valiam R$ 10 bilhões e viraram pó. Na casa de um
conselheiro acharam R$ 800 mil em dinheiro vivo. (Há alguns anos, na
casa de um auditor da Receita, acharam uma máquina de contar dinheiro.)
O
Carf tem uma caixa preta. É impossível obter dele algumas estatísticas
simples: quantos recursos são apreciados? Quantos são acolhidos e
quantos são rejeitados? Quantos são os recursos aceitos nas faixas de
até R$ 10 milhões, R$ 100 milhões e acima de R$ 1 bilhão? Diversas
tentativas, até mesmo em pedidos de informações de parlamentares,
bateram num muro de silêncio. Quais foram os cinco maiores recursos
negados? E os concedidos? Tudo isso pode ser feito sem revelar o nome
dos contribuintes. O Ministério da Fazenda informou que "se forem
constatados vícios nas decisões" do Conselho "elas serão revistas nos
termos da lei". Seria possível o contrário?
Os contubérnios vêm
de longe. Durante o mandarinato do doutor Guido Mantega eles foram
combatidos e gente séria estima que, se a taxa de malandragens era de
70%, hoje estaria em 30%. Ainda assim, a operação da PF poderá
transformar a Lava Jato num trocado. O prejuízo da Viúva pode chegar a
algo como R$ 19 bilhões. Enquanto as petrorroubalheiras envolviam obras,
essas são exemplos de pura corrupção, com o dinheiro indo do sonegador
para o larápio, e mais nada. Uma autuação de R$ 100 milhões era quitada
por fora ao preço de R$ 10 milhões.
Nesse tipo de malfeito não há
partidos políticos nem doações de campanha, legais ou ilegais. Só há
bolsos. Empresas de consultoria e escritórios de advocacia que julgavam
ter descoberto o caminho das pedras precisam procurar bons defensores.
RECORDAR É VIVER
Na
hora em que a Polícia Federal foi em cima das malandragens praticadas
no Conselho Administra-tivo de Recursos Fiscais, é justo recordar que,
nos anos Quinhentos, os índios caetés não comeram só o bispo Pero
Fernandes Sardinha. Eles traçaram também o provedor-mor da Fazenda,
Antonio Cardoso de Barros, o homem dos impostos.
MUSEU DO MORO
Num benefício lateral da Lava Jato, o juiz Sergio Moro prestou uma colaboração à política nacional de museus.
Faz
tempo, primeiro cuida-se da construção do prédio, contratando a
empreiteira. Depois, cuida-se do acervo. Disso resulta que no Rio estão
sendo construídos dois novos museus, mas o da Cidade está fechado desde
2011.
Moro, que botou empreiteiros na cadeia, apreendeu mais de
200 obras de arte nas casas de maganos (131 só com o petrocomissário
Renato Duque). Formou primeiro o acervo.
RENAN E CUNHA
Muita
gente boa acha que, no fundo, Renan Calheiros e Eduardo Cunha merecem
uma indulgência plenária por estarem azucrinando a vida do PT.
O
partido da dupla, o PMDB, blindou o versátil Fernando Baiano para que a
CPI da Petrobras não o ouvisse. Ele está na cadeia, acusado de ser o
operador do partido na Petrobras.
Renan e Cunha nada poderão fazer por ele junto ao juiz Sergio Moro.
MAUS VENTOS
Um
velho marinheiro ensina: "Se você está em alto mar e sente cheiro de
bosta de vaca, corra para um porto. No mar não tem vaca, isso é
prenúncio de tempestade."
O comissariado petista que estuda a estratégia para a próxima eleição municipal está sentindo cheiro de bosta de vaca.
SALVEM A FORTALEZA DA LAJE
Uma
licitação mutretada jogou luz sobre um atentado ao patrimônio histórico
do Rio de Janeiro. O Exército pretendia arrendar por vinte anos a
Fortaleza da Laje, aquele calombo rochoso que fica na entrada da barra
da baía da Guanabara, entre o Pão de Açúcar e a Fortaleza de Santa Cruz.
Desde
os tempos coloniais a fortaleza foi uma das principais peças para a
defesa da cidade. Usada como prisão, nela trancaram José Bonifácio e o
poeta Olavo Bilac. Na crise da renúncia de Jânio Quadros, em 1961,
humilharam o general Henrique Lott mandando-o para lá. Depois da
deposição do presidente João Goulart, o almirante Cândido Aragão, que
comandara os fuzileiros navais, lá foi mantido incomunicável por várias
semanas.
O Exército cuida bem de alguns sítios históricos, como o
Forte de Copacabana e a Fortaleza de Santa Cruz. Nesse caso,
patrocinaria uma monstruosidade, pois tratava-se de construir um
apêndice-restaurante no calombo de 6 mil metros quadrados,
desfigurando-lhe a silhueta. Algo como escavar um buraco no Pão de
Açúcar para receber uma casa noturna. Pelas artes dos piratas, o projeto
obteve o beneplácito do Instituto do Patrimônio Histórico. Há alguns
anos, numa instância preliminar, o Iphan atendeu ao então Super-Eike
Batista e aprovou a construção de um centro de convenções na Marina da
Glória. O projeto era amparado pelo prefeito Eduardo Paes. Felizmente,
os santos que defendem o Rio fizeram com que Eike e seu mafuá fossem à
lona e com que caducasse a licença para o restaurante da fortaleza.
Do
jeito que estão as coisas, o monstrengo parece ter sido arquivado, mas
não custa ao Exército anunciar que, em nome de José Bonifácio, Olavo
Bilac e Lott, não desfigurará a entrada da barra.
Como ensinou a
poeta americana Elizabeth Bishop, que viveu na cidade durante o século
passado: "O Rio não é uma cidade maravilhosa. É apenas um cenário
maravilhoso para uma cidade". Ao longo dos últimos 450 anos, foram
poucos os administradores que ajudaram a preservar o cenário.
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