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09:54
ANDRADEJRJOR
EDITORIAL FOLHA DE SP

Embalado pela vitória na disputa pela presidência da Câmara, Eduardo Cunha avança o sinal e impõe pauta ultraconservadora
Obtida
graças a uma superior habilidade para a articulação política e à
notória incompetência do governo Dilma Rousseff (PT) nesse campo, a
vitória na eleição para a presidência da Câmara parece ter subido à
cabeça do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A julgar por suas
mais recentes declarações, tudo se passa como se os 267 votos que
recebeu de seus colegas equivalessem às dezenas de milhões que teria de
conseguir junto ao eleitorado brasileiro para se tornar presidente da
República.
Em tese, os votos concedidos a Cunha pela maioria dos
deputados têm precisamente o sentido de legitimá-lo como representante
máximo de um Poder autônomo, cuja capacidade de se contrapor ao
Executivo é garantia imprescindível para o equilíbrio republicano.
Todavia,
o novo comandante da Câmara avança o sinal. Não se comporta como o
orquestrador das tendências vigentes no plenário, mas parte para uma
carreira solo.
Já adiantou, a respeito das deliberações da Casa, o
que quer e o que não quer, o que aceita e o que recusa, o que será
admitido ou não por sua vontade individual, mesmo que a vaca (para
recorrer à imagem da moda) tussa ou deixe de tossir.
Ocorre que a
famigerada vaca não é tão metafórica assim. Em qualquer votação do
Legislativo está em jogo, a rigor, a vontade da maioria do povo
brasileiro.
O presidente da Câmara decreta, contudo, que projetos
que tratem da legalização do aborto, por exemplo, só entrarão em pauta
se passarem por cima de seu cadáver --expressão usada em entrevista ao
jornal "O Estado de S. Paulo". O tema não merece discussão republicana,
em especial se for para realizar uma consulta popular?
Não na sua
ótica, que privilegia a ridícula proposta (de sua autoria) de criar o
"Dia do Orgulho Heterossexual". Cunha entende que a vasta maioria da
população sofre, ou corre risco de sofrer, discriminação por não ser
gay.
O deputado, como se sabe, é evangélico. Há cerca de 80 de
seus colegas com semelhantes convicções. A força dessa bancada supera
sua representação numérica.
Agindo como porta-voz desse grupo,
Cunha alcança vários objetivos ao mesmo tempo. Beneficiado pelo voto
fisiológico do "baixo clero", o novo presidente da Câmara "ideologiza"
seu papel justamente nas questões que dizem respeito ao foro íntimo dos
cidadãos.
Assim Cunha amplia seu poder de barganha diante do
governo, que mal e mal ainda não se rende ao conservadorismo religioso.
Surge, ademais, como líder nacional, em posto de destaque numa
conjuntura em que os principais partidos naufragam no descrédito.
Para
insistir nas metáforas rurais, Cunha canta de galo. Resta saber se
resiste à "tosse da vaca", ou aos riscos de denúncia em alguma operação
da Polícia Federal.
FONTE AVARANDABLOGSPOT
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