editorial do Estadão
O Partido dos Trabalhadores (PT), envolvido nos maiores escândalos de
corrupção do Brasil na última década, está preocupado com sua imagem.
Conforme dirigentes do partido discutiram em recente reunião da corrente
majoritária da legenda "Partido que Muda o Brasil", o PT precisa agir
para resgatar a aura "ética" que criou e cultivou nos primeiros anos de
sua existência. Mais uma vez, os petistas apostam tudo na propaganda
como forma de construção da realidade. No entanto, está cada vez mais
claro que a imagem de partido que abriga corruptos não está associada ao
PT à toa - e será preciso muito mais do que golpes de marketing para
alterar essa percepção.
"É preciso passar o PT a limpo", disse Jorge Coelho, um dos
vice-presidentes do partido, durante o encontro. A recomendação é
pertinente, mas é difícil de acreditar que haverá qualquer esforço
autêntico para que essa limpeza seja realmente realizada. Não se trata
de ceticismo, mas de constatação: basta lembrar que os principais
dirigentes do partido envolvidos no escândalo do mensalão, por exemplo,
foram tratados pela militância e pelos líderes petistas como "presos
políticos" e "guerreiros do povo brasileiro".
Agora, com a roubalheira na Petrobrás sendo exposta em detalhes
sórdidos, para dar a impressão de que não tolera corrupção, o PT aprovou
uma resolução segundo a qual os filiados envolvidos em falcatruas serão
expulsos. Tal disposição para lidar com os malfeitores como se deve,
dizem os dirigentes petistas, ficou comprovada pela posição adotada pelo
partido no processo contra o deputado André Vargas na Câmara. A bancada
do PT foi orientada a votar a favor da cassação do ex-petista,
denunciado por sua ligação com o doleiro Alberto Youssef, pivô do
escândalo da Petrobrás. "Quando o PT pede a cassação do André, dá um
exemplo concreto", disse o presidente nacional do partido, Rui Falcão.
A singela narrativa petista, contudo, tem falhas de roteiro. A principal
é que Vargas estava havia mais de 20 anos no partido, sendo uma de suas
principais lideranças. Por essa razão, é preciso muito esforço para
crer que, na cúpula petista, ninguém soubesse de suas traquinagens. O
fato é que Vargas perdeu apoio no PT somente quando o escândalo que o
envolvia começou a ameaçar os planos eleitorais do partido - e então ele
foi pressionado a abandonar a legenda à qual prestou tantos serviços,
entre os quais desqualificar os ministros do Supremo Tribunal Federal
que condenaram os caciques petistas à prisão no caso do mensalão.
Como o resgate da imagem "ética" do PT não pode ter contradições como
essa, o partido decidiu criar uma TV na internet para dar a sua versão
dos fatos. O projeto se alinha à tese segundo a qual foi a imprensa que
criou o mito da corrupção petista e que é necessário mostrar ao País
que, ao contrário do que sugere o noticiário diário, o PT não é
conivente com as fraudes e os desvios de dinheiro público. A esse
propósito - e fica aqui a sugestão de pauta para a TV petista -, seria
interessante conhecer a versão do partido para a manutenção de João
Vaccari Neto como seu tesoureiro, a despeito das inúmeras denúncias de
seu envolvimento com o escândalo da Petrobrás.
Toda essa mobilização marqueteira tem um único propósito: salvar a
candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência em 2018. O
recurso à nostalgia petista em relação a seu passado imaginário, no qual
o partido se apresentava como uma forma de ruptura em relação a "tudo o
que está aí", é articulado diretamente pelo ex-presidente. No 5.º
Congresso do PT, por exemplo, Lula disse que os que não têm "compromisso
ético" devem sair do partido.
Na mesma ocasião, o ex-presidente reconheceu que o PT "comete erros",
mas isso é resultado de seu gigantismo, pois, segundo suas palavras,
"não existe no mundo nenhuma experiência política mais bem-sucedida do
que o PT". Foi esse portento, segundo o ex-presidente, que criou os
instrumentos para acabar com a roubalheira no Brasil - até a delação
premiada, que está na legislação desde 1990, foi citada por ele como
obra petista. É assim, com esse nível de mistificação, que Lula e seus
correligionários querem fazer o País acreditar que o PT, ao contrário
das evidências, é um campeão da luta contra a corrupção.
FONTE ROTA2014
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