Carla Jiménez - El País
Persistia uma certa ilusão de que a presidenta Dilma Rousseff teria mão
firme na escolha do seu time de ministros para o segundo mandato, que
poderiam seguir a linha de Joaquim Levy para a Fazenda. Ela enfrentou a
fúria de aliados para bancar o nome do substituto de Guido Mantega e
essa coragem seria bem-vinda num momento delicado que exige movimentos
cirúrgicos. Mas, o anúncio de 13 nomes da equipe ministerial mostrou
que a expectativa não passava de miragem. Ao contrário, o anúncio
trouxe um choque de realidade sobre o sistema político brasileiro, sobre
o estilo Dilma de governar e sobre a sinuca de bico em que está o PT.
O nome de Katia Abreu, apelidada de “Motossera de ouro”, já
causava celeuma desde que ele começou a ser aventado logo após a
reeleição da presidenta em outubro. Mas, outros causam tanto
constrangimento como o dela. É o caso de Gilberto Kassab, ex-prefeito de
São Paulo, agora no comando do Ministério das Cidades, um dos maiores
orçamentos do país, e cuja responsabilidade é ampliar políticas sociais
de moradia, pensar soluções de mobilidade urbana e saneamento básico.
Kassab, no entanto, em nada lembra uma pessoa de afinidades com
problemas sociais de uma cidade, como ficou claro quando ele comandou a
maior do Brasil. Logo ele que em 2010 fechou albergues de moradores de
rua em São Paulo, e que instituiu a política de apagar grafites de artistas renomados mundialmente em nome de uma ‘cidade limpa’.
Saiu como um dos prefeitos mais mal-avaliados, principalmente porque em
2011, um ano antes de concluir seu mandato, parecia dedicar mais tempo
para criar um novo partido, o Partido Social Democrático (PSD), do que
para governar a cidade. O empenho para dar à luz a nova legenda lhe
rende agora o cargo de ministro. Naquele ano, o PSD tirou uma grande
pedra do sapato do PT. Um grupo de deputados do partido de oposição
Democratas (DEM) migrou para a nova legenda liderada por Kassab, e
diminuiu a grita contra a presidenta.
Dilma não esquece quem lhe é leal, e não deixaria de premiar o
ex-prefeito por isso. O mesmo pode-se dizer do novo ministro da
Educação, o governador do Ceará, Cid Gomes, do partido PROS. Apesar de
ter ficado famoso por um comentário infeliz sobre professores
(“Professor deve trabalhar por amor, e não por dinheiro”, teria dito ele
em 2011), Gomes vem de um Estado que logrou saltar de quarto para
primeiro em educação na região Nordeste em duas décadas.
Uma negociação complexa, principalmente em tempos de pressão por mais ética na política. Helder Barbalho, que assume o ministério da Pesca, é filho de Jader Barbalho, que já ficou dez anos fora da política para fugir das acusações de desvio de dinheiro público. Hoje Barbalho pai responde por ação penal no Supremo por crimes como lavagem de dinheiro.
Mas a credencial que o alçou ao posto, de onde comandará um orçamento de
mais de 40 bilhões de reais, também é a régua da fidelidade. Gomes
sempre foi um cabo eleitoral de Rousseff, com farta propaganda sobre os
programas sociais do PT em seu Estado. Fez sua defesa pública nos
momentos de maior fragilidade da mandatária. O PROS, fundado em 2010,
foi oficializado somente no ano passado, refletindo o sistema pluralista
brasileiro, que já conta com 32 legendas. É a eles que a presidenta
está governando no momento da escalação de nomes, de olho nas aprovações
necessárias no Congresso.
O mesmo Kassab teria patrocinado a carreira do ex-diretor do
departamento de aprovações de edificações em São Paulo, Hussain Aref
Saab, investigado pelo Ministério Público do Estado pela compra de 113
imóveis enquanto ocupou o cargo, entre 2005 e 2012. Aref teria vendido
alvarás falsos para enriquecer. Ironicamente, a prefeitura de Fernando
Haddad, do PT, começou a desmontar essa quadrilha.
Falta ainda confirmar outros ministérios, mas já está claro que os que
estão acertados pouco têm a agregar em termos de popularidade à
presidenta. Muito pelo contrário. Se a escolha de Levy para a Fazenda
foi uma bola dentro de Dilma, o novo ministério lembra o placar de 7 a 1
da Copa do Mundo contra a Alemanha. Levy foi o único gol até agora diante da necessidade de uma economia mais austera e da retomada da credibilidade perdida nos últimos anos.
fonte rota2014
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