EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
Confirma-se o que era apenas denúncia. A Polícia Federal comprovou a quebra de sigilo da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Jomásio Barros, estudante do Piauí, recebeu o tema da prova pelo aplicativo WhatsApp, às 10h47 de 9 de novembro, dia de aplicação do exame. Considerada a diferença de fuso e a variedade do horário de verão, o rapaz obteve a informação uma hora e 13 minutos antes do começo do teste.
Concluído o certame, Barros gravou um vídeo e o postou nas redes sociais. Em seguida, dirigiu-se à PF com a comprovação do vazamento do tema Publicidade infantil em questão no Brasil. Outros concursandos, posteriormente, afirmaram ter recebido o torpedo com a mesma mensagem denunciada por Barros.
Cai por terra, assim, a declaração do representante do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), responsável pela elaboração, aplicação e correção do Enem, de que não há indícios de vazamento. A PF comprovou que há. Só não se sabe a origem, a extensão do universo abarcado e o número de favorecidos.
Também cai por terra a afirmação de que se trata de fato isolado. Não é. Considerada a velocidade com que circulam as informações via WhatsApp e a possibilidade infinita de compartilhamentos, parece impossível assegurar, com absoluta correção, o número e o nome dos que tiraram proveito da fraude.
As investigações prosseguem. É importante apurar e punir os responsáveis pelo crime. E, por mais dramático que possa parecer, impõe-se fazer valer a isonomia - anular a prova. Os estudantes não disputaram a classificação em igualdade de condições. Alguns, não importa quantos, foram beneficiados pelo prévio conhecimento do tema.
Desqualificar a denúncia é comprometer a seriedade da disputa, que, além de avaliar o desempenho do ensino médio, recruta os futuros universitários. Não só. É desrespeitar os mais de 6 milhões de brasileiros que se esforçaram, se prepararam e se submeteram com honestidade às regras estabelecidas no edital.
Os frequentes problemas por que passa o Enem desde a criação - furto de cadernos de provas, vazamento de dados sigilosos de inscritos e de questões do exame, erros na formulação de questões, na impressão, no gabarito e na correção - suscitaram críticas sobre a racionalidade de aplicar simultaneamente teste em todo o território nacional. Talvez seja o caso de repensar o modelo. O gigantismo onera o erário, peca pela ineficiência e desmoraliza o certame.
fonte avarandablogspot
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