Jornalista Andrade Junior

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

"Ministério de segunda",

por Merval Pereira - o globo

O ministério que a presidente Dilma está montando tem membros de primeira e segunda categorias. No grupo de elite, aqueles que vão lidar com as questões econômicas e os que comporão a assessoria direta no Palácio do Planalto, houve critério definido pelo menos em parte pela capacitação profissional e a confiança pessoal.

Para os demais ministérios, prevaleceu a influência partidária sobre a meritocracia, estabelecendo-se uma distribuição de cargos a medíocres e, sobretudo, uma repetida baixa transação que gerou escândalos como o mensalão e o petrolão, e um governo sem alma e sem rumo.

O primeiro movimento teve o objetivo de recuperar a confiança das forças do mercado, e o anúncio do fiscalista Joaquim Levy para a Fazenda atingiu o objetivo. O retorno ao governo de Nelson Barbosa, agora como chefe do Planejamento, e a manutenção de Alexandre Tombini no Banco Central não tiraram o brilho da equipe econômica, mas deixaram a sensação de que a qualquer momento a presidente Dilma pode querer recuperar o controle da área.

No Palácio do Planalto, Dilma cercou-se dos seus de maneira que não fez no primeiro mandato. Mercadante confirmado como o capitão do time, mais forte do que nunca no Gabinete Civil, e Miguel Rosseto no lugar de Gilberto Carvalho na Secretaria-Geral da Presidência fortalecem a retaguarda de Dilma, mesmo contra o gosto de Lula.

Nos demais cargos anunciados até agora, pode ser que a lealdade política e a experiência administrativa tenham sido os critérios que prevaleceram, pois Cid Gomes, Jaques Wagner, Eduardo Braga e Gilberto Kassab já governaram estados e cidades importantes, no entanto nem sempre com sucesso.

Mas é inegável que Dilma esmerou-se em colocar as pessoas erradas em lugares-chave do governo, como o ex-governador Cid Gomes (do PROS) na educação, contra sua vontade, diga-se de passagem, elogiando-lhe o bom senso. Até hoje, a única coisa que se sabe sobre sua expertise na área foi a frase em que, criticando professores em greve, disse que deveriam dar aula por amor, e não por dinheiro, e os que quisessem ganhar melhor que fossem para as escolas privadas.

Jaques Wagner na Defesa é dar mais valor à sua fama de bonachão bom de conversa do que a seus dotes políticos, já que é uma área pacificada. Gilberto Kassab (PSD) nas Cidades é um prêmio ao fiel parceiro político que criou dois partidos para minar a oposição, mas não uma solução se levarmos em conta seu desempenho na Prefeitura de São Paulo.

Para ministro de Ciência, Tecnologia e Inovação, a escolha de Aldo Rebelo, alguém que apresentou projeto de lei para proibir a "adoção, pelos órgãos públicos, de inovação tecnológica poupadora de mão-de-obra", mostra bem aonde chegaremos em termos de inovação tecnológica.

O ministério que deveria ser responsável por políticas de ponta na pesquisa e na inovação nas universidades e na indústria vai ser ocupado por um comunista que se vangloria de sua "devoção ao materialismo dialético como ciência da natureza" que, por isso mesmo, considera que as denúncias de aumento da temperatura global são produto de um "cientificismo” que pretende “controlar os padrões de consumo dos países pobres”.

É esse o homem que vai comandar as informações ao IPCC (ou Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), órgão da ONU que controla as medidas necessárias para enfrentar o problema, que para Rebelo simplesmente não existe.

Há prêmios para derrotados na eleição de outubro (o filho de Jader Barbalho, ex-prefeito de Ananindeua, vai para a Pesca; Armando Monteiro para o Desenvolvimento), há o aumento da influência do PMDB, que passou de cinco para seis ministérios e trocas inusitadas. No Esporte, o PC do B que, sabe-se lá por que, já fazia uma história na área, ocupando-a há 9 anos, perdeu o lugar para o PRB às vésperas das Olimpíadas de 2016 no Rio.

Se fosse para dar lugar a um especialista na área ou pelo menos a um representante do Rio, ainda haveria uma explicação. Mas quem vai para a vaga é o radialista, apresentador de televisão, teólogo e animador George Hilton, de Minas, aliado de Marcelo Crivela e nulo na área que comandará.

A mudança do ministro das Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, para as Comunicações, ainda não está confirmada, mas é vista pelo PT como a reafirmação de que o que chamam de “democratização da mídia” será uma prioridade no segundo mandato de Dilma.

Por enquanto, ainda se trata apenas de uma pressão de alas radicais petistas para amenizar o caráter claramente de centro-direita do ministério e poder dizer que, como o ex-presidente Lula sugeriu, as negociações do novo governo terão que ser “pela esquerda”.


fonte rota2014

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