Jornalista Andrade Junior

sábado, 27 de dezembro de 2014

"Economia brasileira terá de poupar mais",

editorial de O Globo

O déficit em mercadorias e serviços com o exterior fechará o ano em 4% do PIB, patamar bem acima da média histórica do país, hoje mais dependente de poupanças externas

O Brasil deve fechar este ano com um déficit em suas transações correntes (mercadorias e serviços) com o exterior de US$ 86 bilhões, segundo estimativas do Banco Central. É um déficit que bate na casa de 4% do Produto Interno Bruto (PIB), quase o dobro da média histórica do país.
Economistas geralmente associam esse déficit não a um rombo, a um desequilíbrio, mas sim a uma necessidade de absorção de poupanças externas. Se o país está investindo fortemente ou consumindo além do que pode, não consegue poupar internamente o que precisa para se financiar. Se tem acesso a poupanças externas (sob a forma de aportes de capital ou empréstimos), o balanço de pagamentos com o exterior acaba sendo o instrumento de equilíbrio para a economia.
No entanto, um déficit nessas proporções não pode ser mantido por longo tempo, pois há o risco de investidores e financiadores interromperem, repentinamente, o fluxo de capitais. O Brasil já viveu crises sérias no passado com esse tipo de interrupção, provocado até mesmo por fatores alheios à economia do país. É claro que, em função dessas crises, foram criados mecanismos de defesa, como o câmbio flutuante. O ajuste pode ser feito com certa rapidez pela taxa de câmbio, embora se saiba que a um custo social elevado (recessão, inflação e desemprego). O volume de reservas gerenciadas pelo Banco Central, hoje da ordem de US$ 370 bilhões, também é um anteparo contra crises passageiras no exterior.
Seja como for, o déficit em transações correntes parece ter atingido seu ponto máximo. Para segurança da economia, a trajetória terá de ser de declínio, voltando, em termos relativos, à média histórica. A desvalorização do real frente ao dólar deve contribuir para uma recuperação das exportações em 2015, inclusive para mercados que haviam se retraído, como os europeus. A Associação de Comércio Exterior (AEB) prevê para o ano que vem superávit comercial. A exportação de bens manufaturados, que carregam em si mais valores, chegou a representar 50% das vendas do país, índice que o Brasil deveria se esforçar para reconquistar.
Como a redução do déficit está ligado a uma menor dependência de poupanças externas, a política macroeconômica terá de caminhar nessa direção. O ajuste fiscal será fundamental nessa equação, porque o setor público é o que menos poupa internamente e tem grande peso na economia. Quando deixa de poupar, o setor público avança pelo que é poupado pelas famílias e o setor privado, e isso é um dos fatores estruturais que obrigam o Brasil a conviver com taxas de juros bem mais altas do que a média internacional. Felizmente o déficit em transações correntes tem sido financiado em sua maior parte por investimentos diretos, e não apenas por dívida. E tais investimentos têm que apostar no sucesso da economia para obter o retorno esperado.
FONTE ROTA2014

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