editorial do Estadão
Com a votação do relatório do deputado Marco Maia (PT-RS), encerrou-se
há dias a CPI Mista da Petrobrás. Trata-se de um capítulo não muito
honroso para a história do Congresso Nacional. A trajetória da CPI Mista
da Petrobrás foi um contínuo esforço para não cumprir a sua finalidade
de investigar. Nos sete meses em que funcionou a Comissão Parlamentar de
Inquérito, o Palácio do Planalto usou a força da maioria governista
para bloquear qualquer investigação sobre os malfeitos na Petrobras.
A submissão do Legislativo aos interesses do governo federal tornou-se
ainda mais explícita na medida em que as investigações da Operação Lava
Jato, da Polícia Federal, foram se desenrolando. Ficava assim exposto ao
País o que a CPI da Petrobrás poderia ter investigado, mas
intencionalmente não o fez.
Desde o momento em que a oposição apresentou o pedido de instauração de
uma Comissão Parlamentar de Inquérito para apurar indícios de graves
irregularidades na Petrobrás, o Palácio do Planalto deixou claro que não
tinha nenhum interesse em investigar qualquer malfeito na estatal - e
que estava disposto a usar a força da maioria governista para impedir
qualquer avanço investigativo.
Foi necessária uma decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) para barrar
a intenção do governo federal de inflar a CPI com outros assuntos. Por
decisão judicial, ficou estabelecido que a CPI teria como objeto de
investigação as principais denúncias contra a Petrobrás, conforme havia
sido pedido pela oposição.
O governo federal, no entanto, não se deu por vencido. Usando a sua
maioria no Congresso, transformou as sessões da CPI em longas e
intermináveis conversas entre amigos. Numa das vezes em que a presidente
da Petrobrás, Graça Foster, compareceu à CPI, o relator Marco Maia
fez-lhe nada menos do que 70 perguntas. Era o modo de garantir que
nenhuma novidade fosse ouvida.
Nessa época, a base aliada do governo tinha ainda a desfaçatez de dizer
que a compra da Refinaria de Pasadena havia sido um "bom negócio". Logo
depois, no entanto, o Tribunal de Contas da União esclareceria que o
"bom negócio" havia causado à estatal brasileira um prejuízo de US$
792,3 milhões.
Pouco tempo depois, o País ainda ficaria sabendo que as perguntas
formuladas durante a CPI já eram conhecidas previamente pelos que
deveriam ser inquiridos. Nessa história pouco honrosa para o Congresso
Nacional, também estariam impressas as digitais do Palácio do Planalto
no esforço por não investigar.
No conluio que transformava a CPI numa encenação teatral, assessores do
Palácio tinham uma diligente participação. Conforme foi revelado na
época, o ex-presidente da Petrobrás Sérgio Gabrielli e o ex-diretor
internacional da Petrobrás Nestor Cerveró puderam se servir dessa
gentileza: prestar depoimento na CPI conhecendo de antemão quais
perguntas lhes seriam dirigidas.
No entanto, a vida tem as suas surpresas. No dia seguinte a um
depoimento na CPI absolutamente morno, mas que os governistas
consideraram absolutamente satisfatório - como se vê, cada um se
contenta com o que quer -, o ex-diretor de abastecimento da Petrobrás
Paulo Roberto Costa voltaria a ser preso pela Polícia Federal. E a
história começaria a mudar, pois durante essa prisão Paulo Roberto
decidiria pela delação premiada. Felizmente, nesse âmbito, as manobras
do Palácio do Planalto ainda não têm a mesma eficácia, e o País pôde
conhecer um pouco do que estava ocorrendo dentro da maior estatal
brasileira.
O relatório recentemente aprovado, com o qual a CPI encerra os seus
trabalhos, é um símbolo da sua infeliz trajetória. Apesar de todos os
indícios já existentes na época da sua instauração e dos fatos que
depois vieram à tona, a CPI não quis investigar nem investigou qualquer
malfeito. O relatório, de quebra, isentou qualquer político. Mais uma
vez, o Congresso preferiu trocar o seu papel institucional para se
curvar ao Palácio do Planalto. Ao deixar de cumprir o seu papel
institucional, fez um papelão.
fonte rota2014
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