O coronel da reserva Pedro Ivo Moézia, de 76 anos, fez duras críticas aos três comandantes militares e afirmou que os antigos oficiais que prestaram depoimentos à Comissão Nacional da Verdade (CNV) foram abandonados pelos atuais chefes oficiais da ativa. Em particular, ele fez críticas ao Comando do Exército. Moézia tem sido um porta-voz dos militares da reserva. Ele chefiou equipe de interrogatório do Doi-Codi do 2º Exército, em São Paulo, quando a unidade era comandada pelo coronel Carlos Brilhante Ustra, entre 1970 e 1972. O militar depôs na Comissão da Verdade, mas seu nome não consta na lista de 377 responsáveis por violações de direitos humanos apontados no relatório divulgado nesta quarta no Palácio do Planalto.
— Nós servidores das Forças Armadas, do Exército em particular, nos sentimos profundamente decepcionados, tristes, envergonhados e preocupados com o acontecido nesses últimos três anos com a atuação dos comandantes. Estamos assim porque recebemos uma missão (durante a ditadura) e não discutimos ordens superiores. Simplesmente, quando um militar recebe uma ordem, a ela nos dedicamos. De corpo e alma — disse o coronel Moézia, em entrevista ao GLOBO.
— Cumprimos com bravura e galhardia (na ditadura) a missão recebida dos comandantes de então, que nos reconheceram nossos trabalhos. Fomos aclamados heróis e recebemos as mais altas condecorações de serviços prestados à Nação. Éramos diferenciados dentro do Exército e das Forças Armadas.
Moézia criticou ainda mais os comandantes militares.
— Quando a Comissão da Verdade estava soberana nossos comandantes atuais foram protagonistas de uma ação covarde, insidiosa, criminosa, traiçoeira e vergonhosa. Jamais visto na história do Exército brasileiros. Abandonaram seus soldados em pleno campo de batalha, nos deixando à mercê de seus inimigos e entregues a própria sorte. Grandes comandantes, como Caxias, que lutaram ombro a ombro com seus inimigos, reprovariam esses comandantes medíocres que foram indignos de comandar quem quer que seja. Nenhum gesto, nenhuma atitude, nenhuma palavra. Foram simplesmente covardes e, traiçoeiramente, assistiram impassíveis seus subordinados sujeitos aos seus algozes.
O coronel Moézia, que mantém contato permanente com Ustra até hoje, afirmou que o seu pensamento reflete o da tropa. Ele questiona de que lado estão os generais das Forças Armadas e estabelece uma relação, na sua pergunta, com as denúncias de corrupção no país.
— Será que fazem parte dessa sujeira?! Desse esquema?! Será que estão ganhando algum por fora para dar cobertura a essa corja de corruptos e ladrões?! Querem dar de mão beijada para esses vagabundos tudo o que lutamos para conseguir em 64? Ou fazem parte do sonho napoleanesco desses idiotas do PT de dominar e implantar o comunismo na América do Sul?!
Perguntado pela reportagem se suas críticas eram direcionadas aos três comandantes - do Exército (Enzo Peri), da Marinha (Júlio Moura Neto) e da Aeronáutica (Juniti Saito) - respondeu:
— Falo dos três, mas mais do meu. Que conheço mais. Os outros dois não conheço. Falo por nós. Nossa participação é muito maior que da Marinha e da Aeronáutica. Minha intenção é mostrar nossa revolta. Tenho direito de fazer isso. Fui deixado de lado. Enfrentei meus algozes no campo de batalha e acho que me saí muito bem.
O militar disse não estar preocupado com o resultado da CNV nem com qualquer possibilidade de punição.
— Isso não vai dar em nada. Foi tempo e dinheiro público jogados fora. Seja qual for o crime imputado aos agentes de Estados, com a Lei de Anistia não estarão sujeitos a processos e julgamentos. A não ser que a lei seja revogada. Esse relatório da comissão é uma peça informativa, sem qualquer valor jurídico. Só serve para joguinho de cena. Mas não é isso que nos preocupa. O que nos preocupa é algo muito mais sério - disse o militar, se referindo ao comportamento dos comandantes das forças.
— Essa comissão dizer que a ordem de tortura vinha de presidente da República?! Isso é um absurdo. Jogo de cena. Todo mundo chorou, a presidente Dilma chorou, o Lula vai chorar.
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