RICARDO KOTSCHO
Para responder à pergunta que me faço no título deste texto de
despedida de 2014, o ano que não começou e não tem prazo para acabar,
minha primeira preocupação é não me deixar levar pelas previsões
apocalípticas da maioria dos futurólogos nativos que anunciam um tempo
tenebroso pela frente, sem chance de as coisas melhorarem em nosso país.
Claro que não devemos mais, na nossa idade, acreditar em Papai Noel,
mas, se não acreditarmos em mais nada, como nos ensina o sábio Cony,
como vamos fazer todos os dias de 2015 para encontrar motivos de
levantar da cama e ir à luta, já que as nossas contas precisam ser
pagas até o final de cada mês, com tempo bom ou ruim?
Em primeiro lugar, recomendo que a gente deixe de colocar todas as
nossas expectativas e esperanças nas mãos do governo, de qualquer
governo.
Acho que em nenhum outro lugar do mundo as pessoas e a imprensa vivam
tanto em função do que os governantes e parlamentares fizeram ou
deixaram de fazer como aqui no nosso Brasil. Para o bem ou para o mal,
tudo depende de acertos ou erros de quem, afinal, foi eleito por nós.
E nós, qual a nossa responsabilidade?
Como explicar, por exemplo, qualquer que seja o nosso ramo de
atividade, que muitos empregados e empregadores tenham prosperado neste
conturbado ano de 2014, enquanto outros lamentem perdas?
Como explicar que, com um crescimento do PIB próximo de zero, contas
externas no vermelho, inflação fora da meta, dólar disparado e a
Petrobras derretendo na Operação Lava-Jato, tenham se mantido estáveis
os índices de emprego e renda dos trabalhadores?
É muito difícil entender um país como o nosso, mais difícil ainda
tentar explicar. Ilhada por más notícias na economia e encurralada pela
velha mídia, com uma base aliada gelatinosa, a duras penas Dilma
Rousseff conseguiu se reeleger para mais um mandato, mas a nove dias da
cerimônia de posse o clima não é de festa nem de renovação de
esperanças, como costuma acontecer nestas ocasiões.
Ao contrário, como já escrevi aqui outro dia, vivemos um tempo de
incerteza e desesperança, sem saber o que e, pior, com medo do que pode
acontecer.
Neste clima, é evidente que investidores relutam em investir e quem
vive do trabalho assalariado sonha apenas em manter o seu emprego.
Criam-se, desta forma, as condições para as profecias autorrealizáveis:
se todo mundo acha que tudo vai dar errado, é possível que isso acabe
mesmo acontecendo.
De nada adianta aqui ficar falando do que pode acontecer na política e
na economia _ afinal, dentro da margem de erro das pesquisas e das
previsões, pode acontecer de tudo ou pode não acontecer nada.
Mais importante é saber o que cada um de nós pode fazer para melhorar
o astral e decidir o que quer fazer e esperar do próximo ano,
independentemente de como será o novo/velho governo de Dilma 2, já que
não resolve nada só ficar falando mal do governo. Aconteça o que
acontecer, ninguém vai pagar minhas contas por mim.
"Como desejar um Feliz Ano-Novo?", pergunta-me o leitor Brasil de
Abreu, depois de desfiar um rosário de problemas, no final da sua
mensagem, enviada às 18h58 de segunda-feira. Muita gente tem me feito a
mesma pergunta. Respondo com outra pergunta: Vamos fazer o quê? Desejar a
todos um Péssimo Ano-Novo?
Se cada um fizer a sua parte e não ficar só olhando para o rabo do
outro, já teremos dado um grande passo para desmentir todas as projeções
catastrofistas que estão fazendo para o próximo ano. Pode parecer
pouco, mas é tudo que nos resta fazer para não entregar os pontos antes
de o jogo começar.
Por isso, e apesar de tudo, desejo a todos os leitores do Balaio que
me acompanharam ao longo de mais este ano que se vai, e não volta, um
Feliz Natal e, se possível, boas notícias em 2015.
fonte tribunadaimprensa
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