, editorial de O Globo
Queda do preço do petróleo e sanções ocidentais fazem Kremlin pagar alto preço pela política expansionista de anexar a Crimeia e ameaçar a Ucrânia
O preço do petróleo despencou e levou com ele a cotação do rublo, que
perdeu cerca de 45% do valor frente ao dólar, este ano. Petróleo e gás
respondem por perto de 50% das exportações russas, e a crise em que o
país mergulhou devido a isso pode se tornar o maior desafio à hegemonia
do presidente Vladimir Putin, há 14 anos no poder. As autoridades russas
iniciaram uma ação de emergência: o banco central elevou os juros em
6,5 pontos, para 17%, e já gastou mais de US$ 80 bilhões das reservas
tentando sustentar a moeda.
As pesquisas ainda indicam um apoio popular acima de 70% a Putin graças a
seu estrito controle sobre a mídia e o sistema político, e a suas
bravatas contra o Ocidente. Mas isto pode começar a mudar com o que o
ministro da Economia, Alexei Ulyukayev, descreveu como “tempestade
perfeita”: queda das cotações do petróleo/gás, sanções do Ocidente pela
crise na Ucrânia e desaceleração econômica chinesa e europeia. Há
previsões de que a economia russa encolherá 4% em 2015. Para complicar, o
presidente Obama se declarou disposto a pôr em execução uma nova rodada
de sanções contra a Rússia, aprovadas pelo Congresso.
Mesmo assim, Putin manteve o tom desafiador em sua mensagem de fim de
ano. Acusou o Ocidente de tentar subjugar seu país e culpou fatores
externos pelo colapso do rublo e da bolsa. Admitiu que as sanções
ocidentais devido à anexação da Crimeia causam problemas, mas afirmou
que são “o pagamento de nossa independência e soberania”.
Reconheceu que as dificuldades refletem o fracasso em diversificar a
economia e pediu aos russos dois anos para reduzir a dependência das
exportações de hidrocarbonetos. Admitiu que, se os problemas
persistirem, “teremos de cortar algumas coisas”, sem especificá-las.
A crise e as sanções parecem levar Putin a um beco sem saída. Ele
apostou alto na política de enfrentamento com o Ocidente na Ucrânia, que
o levou a anexar a Crimeia e a apoiar forças separatistas no Leste do
país, favoráveis, como ele, à incorporação da região ao território
russo. As sanções, inclusive da Europa, e a queda do petróleo puseram em
xeque sua política de expansão física dos domínios russos, de
inspiração czarista.
O presidente vê-se obrigado a buscar uma conciliação na Ucrânia, para
fazer jus a uma redução das sanções econômicas, mas não pode parecer que
esteja capitulando frente ao Ocidente. Por outro lado, se a cotação do
petróleo não voltar a subir, não se sabe de onde o Kremlin tirará
recursos para bancar a diversificação da economia russa, já que os
investimentos privados estrangeiros também escasseiam.
Nessas circunstâncias, Putin precisará tirar do bolso outro inimigo
externo para poder posar de herói e desviar a atenção dos russos dos
atuais tempos de crise.
FONTE ROTA 2014
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