Guilherme Fiuza - O Globo
Tomara que caia
Quem, em sã consciência, pode apostar que um grupo que se enraizou no Estado brasileiro para saqueá-lo fará tudo diferente agora?
Ao ser diplomada no TSE para o novo mandato, Dilma Rousseff propôs um
pacto nacional contra a corrupção. Quase na mesma hora, a
Controladoria-Geral da União afirmava que a compra da Refinaria de
Pasadena não foi um mau negócio, foi má-fé. Dilma presidia o Conselho de
Administração da Petrobras, responsável pela aprovação da negociata. A
dúvida é se os critérios para a compra da refinaria e para o pacto
anticorrupção serão os mesmos.
O Brasil precisa saber urgentemente qual será o papel do tesoureiro do
PT, João Vaccari Neto, no pacto nacional contra a corrupção. Nas
investigações da Polícia Federal, Vaccari é acusado de beneficiário do
esquema do petrolão, e de injetar propinas na campanha de Dilma — essa
mesma que foi reeleita e diplomada declarando guerra à corrupção. As
faxinas da presidente deixariam o FBI de cabelo em pé.
Os EUA, aliás, já foram apresentados às entranhas do governo popular,
com a chegada do escândalo da Petrobras à Justiça americana. O problema é
que lá não tem um Lewandowski ou um Dias Toffoli para tranquilizar os
companheiros na última instância.
Também não tem um ministro da Justiça servindo de garoto de recados do
marqueteiro petista. Como incluir os americanos, holandeses e suíços
lesados pelo petrolão no pacto contra a corrupção? Será que o apoio
deles custa mais do que os da UNE e do MST?
Uma das ascensões políticas mais impressionantes nos últimos anos foi a
do ex-deputado André Vargas. Virou secretário de comunicação do PT e
chegou a falar grosso com o STF no julgamento do mensalão — cuja
transmissão televisiva ele queria embargar. Depois provocou Joaquim
Barbosa publicamente, fazendo a seu lado o gesto do punho cerrado dos
mensaleiros. André Vargas chegou à vice-presidência da Câmara dos
Deputados, nada menos. Aos inocentes que não entendiam aquela ascensão
meteórica, veio, enfim, a explicação: Vargas era comparsa do doleiro
Alberto Youssef, o operador do petrolão.
Essa singela crônica de sucesso mostra que hoje, no Brasil, não há nada
mais claro e seguro do que a lógica de funcionamento do PT. A qualquer
tempo e lugar que você queira compreendê-la, o caminho é simples: siga o
dinheiro.
Seguindo o dinheiro (farto) do doleiro, a polícia chegou a uma quadrilha
instalada na diretoria da Petrobras sob o governo popular. Tinha o
Paulinho do Lula, tinha o Duque do Dirceu, tinha o tesoureiro da Dilma,
tinha bilhões e bilhões de reais irrigando a base de apoio do império
petista. Um ou outro brasileiro mal-humorado se lembrou do mensalão e
resmungou: mais um caso de corrupção no governo do PT. Acusação
totalmente equivocada.
O mensalão e o petrolão não são casos de corrupção. Pertencem a um
sistema de corrupção, montado sob a bandeira da justiça social e da
bondade. Vamos repetir para os que seguiram o dinheiro e se perderam no
caminho: trata-se de um sistema de corrupção.
E as investigações já mostraram que esse sistema esteve ligado
diretamente ao Palácio do Planalto nos últimos dez anos. Um deputado de
oposição disse que o maior medo do PT não era perder a eleição
presidencial, mas que depois Dilma fizesse a delação premiada.
E lá vai o Brasil para mais quatro anos dessa festa. Quem tem autoridade
para acreditar que o método será abandonado? Quem em sã consciência
pode apostar que um grupo político que se enraizou no Estado brasileiro
para saqueá-lo irá fazer tudo diferente agora?
Responda, prezado leitor: quem são as pessoas nesse governo ou nesse
partido capazes de liderar uma guinada virtuosa? Lula? Dilma? Vaccari?
Mercadante? Pimentel? Cardozo? Carvalho? Dirceu? Delúbio?
Mesmo depois de passada toda a propaganda suja da eleição, mesmo depois
de exposta a destruição da maior empresa brasileira pelos que juravam
amá-la, Dilma não recuou. Foi para cima do Congresso e rasgou a Lei de
Responsabilidade Fiscal. Obrigou o parlamento a legalizar o golpe do
governo popular contra a política de superávit — que é um dos pilares da
estabilidade monetária. O que falta fazer?
Que passe de mágica devolverá a credibilidade a um governo desmoralizado
no país e no exterior? Quem vai querer investir aqui com esse bando de
parasitas mudando as regras ao sabor das suas conveniências
fisiológicas? Quem tem coragem de afirmar (com alguma dignidade) que os
próximos quatro anos poderão reerguer esse Brasil em processo de
argentinização?
Num sistema parlamentarista razoável, a extensão do escândalo na
Petrobras já teria derrubado o governo. Os acordos de delação premiada
já indicaram que Dilma e Lula sabiam de tudo. Se o Brasil quiser (e o
gigante abrir pelo menos um dos olhos), essa investigação chegará onde
tem que chegar. Esse é o único pacto possível contra a corrupção.
Em 1992, quando Collor estava balançando, já por um fio, Bussunda
resolveu dar a sua contribuição e apareceu diante do Palácio do Planalto
vestindo um tomara-que-caia — “em homenagem ao presidente”. É isso que
falta?
FONTE ROTA2014
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