RODRIGO CONSTANTINO
Quando a porca torce o rabo, os bandidos
precisam de alguma cortina de fumaça. E a nova onda do PT, encampada
pela própria presidente Dilma, é falar em um “pacto contra a corrupção”.
Uma piada de mau gosto, vindo do partido que vem, das pessoas que
comandaram esse sistema de corrupção desde o começo. Uso o
termo sistema aderindo ao que o jornalista Guilherme Fiuza tem dito,
para diferenciar o que estamos vendo de um “simples” caso a mais de
corrupção.
Em sua coluna
de hoje, aliás, Fiuza mostra como os mesmos envolvidos nesse sistema
continham gozando da estima e do poder no PT, e que é ridículo esperar
que essa gente mesmo faça algo de concreto para combater a roubalheira.
Se o gigante abrisse apenas um olho o PT seria enxotado de Brasília. Diz
Fiuza:
Seguindo o
dinheiro (farto) do doleiro, a polícia chegou a uma quadrilha instalada
na diretoria da Petrobras sob o governo popular. Tinha o Paulinho do
Lula, tinha o Duque do Dirceu, tinha o tesoureiro da Dilma, tinha
bilhões e bilhões de reais irrigando a base de apoio do império petista.
Um ou outro brasileiro mal-humorado se lembrou do mensalão e resmungou:
mais um caso de corrupção no governo do PT. Acusação totalmente
equivocada.
O mensalão e
o petrolão não são casos de corrupção. Pertencem a um sistema de
corrupção, montado sob a bandeira da justiça social e da bondade. Vamos
repetir para os que seguiram o dinheiro e se perderam no caminho:
trata-se de um sistema de corrupção. E as investigações já
mostraram que esse sistema esteve ligado diretamente ao Palácio do
Planalto nos últimos dez anos. Um deputado de oposição disse que o maior
medo do PT não era perder a eleição presidencial, mas que depois Dilma
fizesse a delação premiada.
Em seguida, Fiuza pergunta ao leitor quem
são as pessoas nesse governo ou nesse partido capazes de liderar uma
guinada virtuosa: Lula? Dilma? Vaccari? Mercadante? Pimentel? Cardozo?
Carvalho? Dirceu? Delúbio? Alguém em sã consciência pode esperar algo
positivo de um “pacto contra a corrupção” proposto pelo PT? Isso mais
parece um “pacto de não-agressão”, justamente para preservar o sistema de corrupção.
Sem usar a palavra, Fiuza deixa claro que
o impeachment parece a única solução. Lembra do caso de Collor para
concluir seu artigo com o protesto bem-humorado do falecido Bussunda,
que usou um tomara-que-caia diante do Palácio do Planalto. E afirma que,
em um sistema parlamentarista, o caso da Petrobras já teria derrubado o
governo.
O PT tem tentado, para se proteger de
tanta podridão, atacar a oposição. Fala em “terceiro turno” para dar
ares golpistas a essa demanda legítima por investigações e punições
eventuais em casos comprovados de desvios e ilegalidade. O partido não
aceita o papel da oposição em uma democracia. Aliás, não aceita bem a
própria democracia.
Aécio Neves, em artigo
publicado no GLOBO, reforça que cumpriu o rito civilizado e democrático
de ligar para a vencedora no pleito, enquanto Dilma ignorou o que é de
praxe e preferiu não mencionar seu opositor no discurso de vitória.
Alguém que, não custa lembrar, recebeu 51 milhões de votos! Diz Aécio:
Sair do
palanque implica reconhecer que há papéis distintos na democracia, e um
destes papéis cabe à oposição exercer, fiscalizando o poder, denunciando
erros e abusos, inquirindo as autoridades, apresentando alternativas.
Na lógica do
PT, só têm o direito de ocupar as ruas os movimentos que defendem o
partido. Para tentar tirar a legitimidade de milhões de brasileiros, de
forma desrespeitosa, tentam associar todos os opositores a defensores de
ditaduras. É importante que o partido aprenda a conviver com esse novo
protagonista da cena política — o cidadão que democraticamente protesta e
não se cala. Pois, ao lado dele, a oposição também não vai se calar.
A vitória
deu ao PT a oportunidade de corrigir erros que não foram poucos, mas não
lhe garantirá salvo-conduto para continuar atentando contra a ética e a
inteligência dos brasileiros.
O PT se julga detentor de tal
salvo-conduto, mas não o possui. Parte do Brasil acordou. O gigante como
um todo ainda dorme, é verdade, ainda se mostra passivo diante desse sistema de
corrupção. Muitos vão até mesmo cair nessa ladainha de “pacto contra a
corrupção” proposto pela presidente, a favorecida pelo esquema da
Petrobras que irrigou o caixa do partido, segundo denúncia dos
envolvidos.
Mas outra parte vai continuar lutando
pela justiça, democracia e liberdade, e contra a impunidade, portanto.
Espera-se que a oposição realmente faça o mesmo, sem “pacto” algum de
companheiros. O único pacto que aceitamos é que se cumpra a lei, que se
puna os corruptos. A forma de combater a corrupção é tirar o PT do
poder. Não com um golpe, mas sim usando os instrumentos legítimos e
legais da própria democracia.
Rodrigo Constantino
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