Carlos Newton
Pesquisa realizada pelo IBGE sobre insegurança alimentar joga por terra a farsa da formação da “nova classe média” em 2009. O levantamento, baseado nas informações da Pesquisa Nacional de Amostras em Domicílio (PNAD), mostra que 78,9% dos domicílios em insegurança alimentar moderada ou grave têm rendimento per capita de até um salário mínimo. Ou seja, renda total de R$ 2.561, considerando-se famílias com 3,5 membros cada, em média.
A pesquisa considera que domicílios com insegurança alimentar leve são aqueles nos quais foi detectada alguma deficiência com a quantidade e qualidade dos alimentos disponíveis. Nas famílias com insegurança alimentar moderada, os moradores conviveram com a restrição quantitativa de alimento. Por fim, nos domicílios com insegurança alimentar grave, além dos membros adultos, também as crianças passavam pela privação de alimentos, podendo chegar à sua expressão mais grave, a fome.
Em 2013, a pesquisa registrou 65,3 milhões de domicílios particulares no Brasil. Destes, 14,7 milhões de família (22,6%) se encontravam em algum grau de insegurança alimentar. Ou seja, o problema da desnutrição ainda atinge cerca de 52 milhões de pessoas (25,8% da população do país).
UMA TEORIA FALSA
O inventor da nova classe média foi o economista Marcelo Néri, que trabalhava na Fundação Getúlio Vargas e ganhou 15 minutos de fama em 2009, ao anunciar que o governo tinha conseguido tirar milhões de família da pobreza e as elevado à classe média. Era como se a classe operária enfim tivesse chegado ao paraíso, mas ao contrário do enredo do filme clássico do diretor Elio Petri (Itália, 1971).
Para realizar o milagre da multiplicação dos pães, em 2009 Néri passou a considerar de classe média as famílias com renda mensal a partir de R$ 1.600 (ou seja, com cada membro tendo renda de R$ 455), que era o salário mínimo da época.
A imprensa abriu espaço para essa idiotice, Néri foi ganhando fama e até escreveu um livro, “A Nova Classe Média”. O pior é que Lula ficou encantado com a teoria de Néri e acreditou mesmo que milhões de famílias tivessem saído da pobreza e emergido na classe média.
A vida do criativo economista é que imediatamente melhorou. Neri tornou-se presidente do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e depois ministro. E foi em sua gestão que o IPEA cometeu o maior erro estatístico de sua história, ao divulgar que 65% dos brasileiros concordavam que mulheres com roupas que mostram o corpo mereciam ser atacadas. O resultado correto era 26%, ou seja, o erro foi de “apenas” 39%. Mesmo assim, Néri não foi demitido.
CLASSE MÉDIA DESNUTRIDA?
As palavras e expressões têm um peso e um significado. Quem está na classe média não pode mais ser considerado pobre nem ter problemas de segurança alimentar. Se isso estiver ocorrendo, é sinal de que alguma coisa muito séria aconteceu. Ou o país mergulhou numa crise econômica e social gravíssima, em que a classe média subitamente empobreceu, ou a classificação de classe média está equivocada. Não há outra explicação.
Já houve um tempo em que Lula e o PT acreditavam no Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), que há décadas tem alertado o país sobre o baixo poder aquisitivo do salário mínimo brasileiro. Agora, preferem acreditar num carreirista como Marcelo Neri, cujos “trabalhos” depõem contra a credibilidade do governo e desprezam a racionalidade dos demais brasileiros, que com facilidade sabem distinguir quem é da classe pobre e quem é da classe média.
FONTE TRIBUNADAINTERNET
0 comments:
Postar um comentário