Cleide Carvalho e Felipe Ribas - O Globo
Em depoimento de cinco horas ao MP Federal em Curitiba, Venina Velosa disse que está sendo ameaçada
A ex-gerente da Petrobras Venina Velosa da Fonseca prestou depoimento
durante cinco horas ao Ministério Público Federal em Curitiba, contou
que está sendo ameaçada e entregou milhares de documentos,
principalmente cópias de emails e relatórios internos de auditoria, à
força tarefa de procuradores que investiga o cartel de empresas e o
desvio de dinheiro de obras da estatal. Segundo o advogado Ubiratan
Mattos, que representa Venina, ela reafirmou que toda a diretoria da
Petrobras sabia das irregularidades, incluindo Graça Foster, e os
documentos devem ajudar a força tarefa nas investigações.
Mattos explicou que Venina manteve cópias dos emails porque sabia que
estavam sendo cometidas irregularidades e decidiu ajudar nas
investigações depois de ver seu nome incluído entre os responsáveis
pelas irregularidades nas obras da Refinaria Abreu e Lima, ao lado de
Pedro Barusco Filho, da diretoria de Engenharia e Serviços, que mantinha
contas no exterior a serviço do esquema. Barusco é ligado a Renato
Duque e assinou acordo de delação premiada para minimizar punição, além
de se prontificar a devolver cerca de R$ 100 milhões mantidos fora do
país.
- A vilã não é Venina. Ela está do lado da ética e sempre denunciou
internamente. A diretoria toda sempre soube, incluindo a Graça (Foster) -
disse Mattos.
O advogado afirmou que Venina passou a ser intimidada por telefone após a
primeira denúncia, com recados como "você está mexendo com gente
grande".
- Havia um processo de desconstrução da imagem da Venina. Colocar o nome
dela ao lado de Pedro Barusco é um absurdo - afirmou Mattos.
O Ministério Público Federal apresentou à Venina a possibilidade de ela
ser ouvida como "colabora", em acordo de delação premiada, mas o
advogado Ubiratan Mattos afirmou que ela não considerou necessário.
- Em nenhum momento ela cogitou depor como colaboradora. Ela será ouvida como testemunha de acusação - explicou.
Venina deverá prestar novos depoimentos ao Ministério Público Federal e
tem pelo menos três depoimentos marcados para fevereiro, a serem
prestados ao juiz Sérgio Moro, da 13ª Vara da Justiça Federal no Paraná,
responsável pelos inquéritos da Operação Lava-Jato que não envolvem
autoridades com foro privilegiado.
- Essa foi apenas a primeira conversa com o Ministério Público Federal.
Mantivemos o sigilo por segurança. Ela tem sofrido ameaças por telefone -
explicou o advogado, acrescentando que Venina é divorciada, tem duas
filhas e teme pela segurança delas.
Para Mattos, a atitude de Venina da ex-gerente da Petrobras é essencial
para mudar a forma como são feitos negócios no Brasil, que causa
indignação a todos os cidadãos, inclusive a ele próprio.
O procurador Deltan Dallagnol, que lidera a força-tarefa do MPF na
Operação Lava-Jato, também ressaltou que Venina depôs na condição de
testemunha e não negou que ela possa ser ouvida novamente na sequência
das investigações.
- Todos os elementos formais, como documentos e emails, foram entregues.
Mas o teor deles e do depoimento vão continuar em sigilo - afirmou o
procurador.
FONTE ROTA2014
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