por Dora Kramer
A máquina pública foi usada e abusada nos últimos dois anos de maneira
explícita para fins eleitorais. Seja na campanha antecipada, de
fevereiro de 2013 - quando o ex-presidente Luiz Inácio da Silva anunciou
a candidatura de Dilma Rousseff à reeleição - até 5 de julho de 2014 -
quando se iniciou o período regulamentar - ou desde então, o governo fez
do Brasil um palanque.
Todo mundo viu, menos a Justiça Eleitoral, agora declaradamente imbuída
de um espírito de intervenção mínima. Tendência contra a qual já havia
se posicionado no início do ano o presidente do Tribunal Superior
Eleitoral em fim de mandato, Marco Aurélio Mello, pedindo "rédeas mais
curtas" e alertando que a liberalidade acabaria por resultar em
ilegalidades em série.
Profecia plenamente realizada. O Palácio da Alvorada foi utilizado para
entrevistas e reuniões da candidata. Questionada, alegou que ali era sua
moradia. Ainda na fase da campanha antecipada o TSE deu ganho de causa à
presidente numa ação contra a realização de uma reunião política no
mesmo palácio alegando que a lei eleitoral só poderia se aplicar a
candidatos já oficializados. Uma vez Dilma oficializada usou o Alvorada à
vontade com a concordância da Justiça, que assim se pronunciou quando
acionada.
Assim como a Secretaria de Relações Institucionais da Presidência foi
usada para solicitar ao PMDB os nomes dos prefeitos que haviam
comparecido a um almoço com o candidato do PSDB, Aécio Neves, no Rio de
Janeiro. Providência que poderia ter sido tomada pelo diretório local do
PT, mas aí não teria o mesmo peso nem o efeito de intimidação. A
Justiça Eleitoral, no entanto, nesta quarta-feira entendeu que não houve
nada de errado na conduta.
Não precisamos ir à ONU para que a ilegalidade não tome proporções
oceânicas. Fiquemos em Minas Gerais, onde um deputado petista disse numa
reunião (gravada em vídeo) que a presidente tem alto índice de
intenções de votos no Estado graças ao "dedo forte dos petistas nos
Correios". O PT detém a presidência da estatal que está sendo apontada
como responsável pelo boicote de distribuição de material da oposição e
por ferir regras internas para favorecer a campanha à reeleição.
"Isso é um absurdo, pô!", reagiu a presidente. Não falava sobre o uso dos Correios. Mas sobre o abuso de se falar a respeito.
E outros bichos. Na
campanha a presidente Dilma tem recorrido a ditos populares que remetem
ao aviso do secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho,
referindo-se ao embate eleitoral então ainda distante: "O bicho vai
pegar".
Cada qual tem um significado de origem. "Nem que a vaca tussa", a
expressão usada por ela para dizer que não mudaria de jeito algum a
legislação trabalhista, derivaria do fato de que a vaca baba porque não
sabe tossir. A frase completa é "nem que a vaca tussa e o boi espirre".
Mas, segundo o Guia dos Curiosos, o provérbio não é verdadeiro. "Como os
humanos, os bovinos tossem toda vez que a traqueia passa por um
processo irritativo", diz o veterinário José de Oliveira Pinto, da
Universidade Federal de Viçosa (MG).
Semana passada, em São Paulo, Dilma anunciou em ato público que era
chegada "a hora de a onça beber água". Para este dito há várias
interpretações. A mais recorrente é a que se traduz como o momento de
mostrar de quem é a força. Há outra: diz que a onça bebe água sempre na
mesma hora e gosta de reinar sozinha à beira do regato.
Há ainda expressão não citada: "A cobra vai fumar". Alude a
acontecimentos que geram sérios problemas. Surgiu quando da iminência de
o Brasil entrar na Segunda Guerra Mundial. Dizia-se que era mais fácil
uma cobra fumar que um país subdesenvolvido participar da guerra na
Europa. A cobra fumou. E está prestes a fumar nesses tempos de tantas
delações premiadas.
FONTE AVARANDABLOGSPOT
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