skip to main |
skip to sidebar
08:11
ANDRADEJRJOR
EDITORIAL O ESTADÃO
A sonegação começou
pelos dados mais recentes sobre a desigualdade de renda no País,
apurados pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado
ao Ministério do Planejamento. Em sintonia com os interesses eleitorais
da presidente Dilma Rousseff, a cúpula do órgão adiou para depois do
segundo turno a divulgação dos números que contrariam a propaganda da
candidata sobre a queda continuada da diferença de rendimentos entre os
mais ricos e os mais pobres. Em protesto contra a censura, que fere
frontalmente o direito de acesso dos brasileiros a informações de
natureza pública, um dos diretores da entidade, Herton Ellery Araújo,
pediu exoneração do seu cargo. Foi seguido pelo vice-coordenador da sua
área, Marcelo Medeiros.
Segundo o titular do instituto, Sergei
Soares, o trancamento não teria sido ordenado pelo governo. "Foi uma
decisão nossa." É muito possível: no Estado enfeudado pelo PT, servidor
esperto é o que se antecipa ao que sabe ser a vontade do amo. O amo é
conhecido por sua paranoia, embora nas atuais circunstâncias o temor é
bem capaz de ter fundamento. O risco real e presente de Dilma ser
derrotada no tira-teima de depois de amanhã pelo tucano Aécio Neves
decerto pôs o seu apparat em alerta máximo para impedir que, levada à
disputa, qualquer novidade adversa ao seu projeto de poder possa tirar
votos, por poucos que sejam, de sua porta-estandarte. Eis por que, à
mordaça no Ipea, outras foram aplicadas em setores tão diversos como o
Ministério da Educação e da Receita Federal, de que se falará adiante.
O
caso do instituto merece ser visto bem de perto por dois motivos que se
entrelaçam: a importância dos seus levantamentos sobre o perfil social
da população e, nesse estudo específico, pela inovação que permitiu aos
seus pesquisadores chegar a verdades inconvenientes para a retórica
petista. O primeiro ponto é óbvio: o padrão de distribuição da riqueza
nacional neste país que padece para descalçar as botas de chumbo da
histórica e vergonhosa desigualdade que nos caracteriza está no centro
das atenções desde a redemocratização, a ponto de ter sido uma das
preocupações dominantes dos constituintes de 1988. Já a citada inovação,
que consistiu em incorporar informações do Fisco aos dados
convencionais, fez o Ipea concluir que a desigualdade não só é mais alta
do que estimava, como ainda se estabilizou entre 2006 e 2012, segundo o
pesquisador Marcelo Medeiros, citado pelo jornal Valor.
O Ipea
sustenta que a legislação eleitoral proíbe que se tornem públicos, entre
outros, dados capazes de influir nas decisões de voto. Trata-se de uma
patranha. O fato é que, dentro da perversa lógica petista de que as
informações em posse do Estado devem servir a seus ocupantes - ou para
ser divulgadas com espalhafato, quando positivas, ou para ser
trancafiadas, quando potencialmente perturbadoras para as perspectivas
eleitorais da chefe deles todos -, faz sentido, por exemplo, o arrocho
do resultado da arrecadação federal em setembro. Por manter a tendência
minguante dos números anteriores, é mais uma prova da crônica situação
enfermiça da economia, provocada não pela retração das atividades em
escala internacional, como alega a presidente, mas pela incompetência e
os zigue-zagues de seu governo.
Para um governo que também quer
fazer crer que faz tudo e mais alguma coisa pela educação fundamental no
País, melhor deixar guardados os últimos resultados do Ideb - a
aferição em âmbito nacional, a cada dois anos, com mais de 7 milhões de
estudantes, dos conhecimentos de português e matemática do alunado do
ensino básico. O exame mais recente data de agosto de 2013. Responsável
pela prova, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas (Inep), do
Ministério da Educação, nega a intenção de escamotear a verdade: a
publicação estaria demorando porque os dados do exame precisam ser
apresentados de forma tal a facilitar a sua compreensão pelas escolas.
Se essa alegação pretende ser sofisticada, a da Receita para a não
divulgação da arrecadação de setembro é de um cinismo atroz: os
servidores responsáveis por dar publicidade aos números estão absorvidos
esta semana com atividades de planejamento.
fonte avarandablogspot
0 comments:
Postar um comentário