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08:03
ANDRADEJRJOR
MUDA BRASIL AÉCIO45
DEMÉTRIO MAGNOLI
O GLOBO -
Em
caso de vitória domingo, a presidente teria o cetro e o trono, mas
careceria da legitimidade tipicamente democrática, que decorre da
persuasão
Se, neste domingo, Dilma Rousseff obtiver a
reeleição, estará instalado um governo de crise. A candidata terá sido
eleita por metade do país, contra a vontade do eleitorado urbano do
Centro-Sul e derrotando as aspirações de mudança que detonaram as
manifestações de junho de 2013. Num cenário de acelerada deterioração
econômica, o governo será compelido a restringir o crédito e o consumo,
desonrando a nota promissória assinada pela candidata durante a campanha
eleitoral. Refém da máquina do lulopetismo, a presidente que fracassou
em seu primeiro mandato precisará inclinar-se a uma série de exigências
políticas do PT. Então, lembraremos com saudade dos anos medíocres de
Dilma 1.
Em eleições democráticas, o vencedor fica com as
batatas. Na hipótese de triunfo de Dilma, mesmo que por um mísero voto
de diferença, ela terá a legitimidade jurídica para governar — e Aécio
deverá cumprimentá-la como presidente de todos os brasileiros. A
legitimidade política, contudo, é algo diferente. Uma vitória do
lulopetismo no domingo não significaria a reprodução dos triunfos
anteriores de Lula e da própria Dilma, mas a reiteração anômala de um
governo cujo tempo passou. Uma prova elucidativa disso está na campanha
da presidente, que repete lendas sobre um passado já distante (o governo
de FH) sem nunca articular um rumo de futuro.
A caravela do
lulopetismo chegou ao porto do poder insuflada pelos ventos fortes de
uma utopia possível: mais igualdade e justiça social. Aquela promessa de
mudança rendeu alguns frutos, mas estiolou-se aos poucos, degradando-se
num projeto político-partidário vazio. Dilma nada tem, hoje, a dizer
aos cidadãos. A narrativa central de sua campanha é que todos os
adversários (Eduardo Campos, Marina Silva, Aécio Neves) encarnam o mal
absoluto. Só o PT e seus patrióticos aliados, entre os quais despontam
as mais nefastas figuras da República, têm o direito de conduzir o país —
eis a mensagem absurda veiculada pela campanha oficial. Dilma 2 seria o
resultado do triunfo do medo, isto é, de uma inércia sustentada pela
força esmagadora do aparelho de Estado. A presidente teria o cetro e o
trono, mas careceria da legitimidade tipicamente democrática, que
decorre da persuasão.
O lulopetismo beneficiou-se de um ciclo
econômico internacional especialmente favorável, tanto sob o ponto de
vista dos fluxos de capitais quanto sob o dos termos de intercâmbio.
Nunca antes, sob a vigência da democracia, um mesmo bloco político
experimentara doze anos ininterruptos de poder. Fenômenos similares de
estabilização política, largamente influenciados pelo ciclo econômico
global, verificaram-se na Rússia, na Turquia, na Venezuela e na
Argentina. Contudo, desde 2010, ruíram os fundamentos externos do
crescimento econômico moldado pela expansão do crédito e do consumo. A
reversão do ciclo colhe o Brasil despreparado para enfrentar os desafios
da conjuntura mundial. Num hipotético segundo mandato, Dilma seria
obrigada a velejar contra o vento sem conhecer os segredos da
triangulação.
Confrontado com a reversão do ciclo, o chavismo
engajou-se na aventura de desafiar os manuais da economia de mercado,
conduzindo a Venezuela aos abismos da inflação, do desabastecimento e de
uma severa recessão. O lulopetismo, porém, não é uma variedade
amenizada de chavismo. Ignorando o clamor dos chamados
“desenvolvimentistas” do PT, Lula rejeita os desvios aventureiros
extremos, preferindo oscilar em torno do eixo da ortodoxia. Os rumores
sobre um possível retorno de Antonio Palocci ao leme da economia podem
até se revelar falsos, mas indicam que Dilma 2 não nos atiraria no
redemoinho da “venezuelanização”. Entretanto, também não avançaria na
rota das reformas indispensáveis para inaugurar um novo ciclo de
crescimento, que foram demonizadas impiedosamente durante a campanha
eleitoral.
O vetor resultante é um governo de crise crônica. Num
cenário de estagnação da economia e perda do dinamismo do mercado de
trabalho, combatendo surtos inflacionários, ameaçado por desequilíbrios
nas contas públicas e externas, o segundo mandato seria assombrado pelos
amplos desdobramentos políticos do escândalo de corrupção na Petrobras.
Então, uma presidente que perdeu o respeito da opinião pública se
converteria em refém das múltiplas, contraditórias exigências de uma
coalizão de poder cada vez mais esgarçada.
Dilma nunca teve peso
específico no PT. Se reeleita, não terá nem mesmo a perspectiva de um
novo mandato, que funciona como reserva estratégica de poder. A
presidente fraca teria que se inclinar às correntes do lulopetismo
descontentes com o jogo de contrapesos típico das democracias. O
Congresso indócil, pronto a exercitar a arte da chantagem, o STF
fortalecido pelo desenlace do julgamento do “mensalão” e a imprensa
independente, que insiste em divulgar notícias desagradáveis, se
converteriam em alvos do fogo do Executivo. Se chegar a existir, Dilma 2
será o governo dos “conselhos participativos” constituídos por
movimentos sociais palacianos, de seletivas escolhas de juízes
destinadas a desfigurar a corte suprema, da mobilização de ferramentas
financeiras e políticas de atemorização da imprensa. No compasso da
crise, conheceremos de fato a alma autoritária do PT.
A linguagem
de uma disputa eleitoral não é mero fogo fátuo, que se dissipa na hora
da proclamação do vencedor, mas um poderoso indicador do estado do
sistema político. A campanha de Dilma pintou seus adversários como
“inimigos do povo”, não como lideranças oposicionistas legítimas, e
empregou largamente os recursos da difamação e da injúria pessoais. Num
hipotético segundo mandato, seu governo não promoverá a ruptura
econômica sonhada pelos insensatos, mas operará na esfera política
segundo os critérios definidos nesses três meses de fúria. É só isso
que, 12 anos depois, tem a oferecer o lulopetismo.
FONTE AVARANDABLOGSPOT
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