ACORDA BRASIL - AÉCIO NEVES 45
Cleide Carvalho - O Globo
Tesoureiro do PT é acusado de cobrar propina em negócios com fundos de pensão para rechear caixa dois de campanhas
O doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto
Costa não foram os primeiros a utilizar a delação premiada para acusar o
tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, de arrecadar propina para o
partido. Identificado como um dos operadores do mensalão e apontado como
doleiro pela Procuradoria Geral da República, o operador financeiro
Lúcio Bolonha Funaro acusou Vaccari de cobrar propina em operações com
fundos de pensão em pelo menos duas ocasiões, na CPI dos Correios (2006)
e das ONGs (2010). Em depoimento ao MPF, afirmou que o tesoureiro do PT
chegava a cobrar propina de 12% em negócios que serviam para rechear o
caixa-dois de campanhas políticas.
Em depoimento à CPI das ONGs, em 2010, o operador financeiro Lúcio
Funaro sugeriu que fossem investigados negócios da Itaipu Binacional e
do fundo de pensão da empresa, o Fibra, que poderiam estar relacionados
ao tesoureiro do PT. Ele assumiu o conselho da empresa em 2003. Na
época, Funaro afirmou que Vaccari tinha relacionamento “umbilical” com o
grupo Schahin, que mantém mais de US$ 10 bilhões em contratos com a
Petrobras.
O Grupo Schahin também tem negócios em Foz do Iguaçu. A Itaipu
Binacional cedeu terreno e projetos (arquitetônico e estrutural) para
que fosse erguida a Universidade Latino Americana. A obra atrasou, e o
consórcio Mendes Junior/Schahin paralisou as atividades e informou que o
contrato tem desequilíbrio financeiro. O contrato foi fechado por R$
241 milhões e recebeu aditivos de R$ 13,9 milhões. O TCU chegou à
conclusão que a falha estava no projeto feito por Itaipu.
Segundo Paulo Roberto Costa, Vaccari é o operador do esquema de propinas
na diretoria de Serviços da Petrobras, com comissão de 3%. Para o MPF,
apenas as informações de Youssef, que distribuía o dinheiro, podem
esclarecer quem recebia e como ia para o caixa dois do PT. Funaro
afirmou que Vaccari operava com dinheiro vivo, o que torna mais difícil a
investigação.
CPMI INVESTIGA LIGAÇÃO COM GRUPO SCHAHIN
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito que investiga os negócios da
Petrobras tenta retomar uma das denúncias de Lúcio Bolonha Funaro, a
partir das investigações da Operação Lava-Jato, e descobrir a ligação de
Vaccari com o Grupo Schahin, que tem contratos superiores a US$ 10
bilhões com a Petrobras.
Em um dos pedidos de investigação, do deputado Rubens Bueno (PPS-PR),
são citados pagamentos do Grupo Schahin a empresas de fachada de
Youssef. Em outra ação judicial na Justiça do Paraná, do caso Copel, há
registros de pagamentos feitos pelo doleiro a Kenji Otsuki, executivo do
grupo.
Além de pedir quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico de
Otsuki, o deputado João Magalhães (PMDB-MG) lembrou que Otsuki preside a
offshore Turasoria, que arrenda o navio-sonda LC Lancer para a
Petrobras, e da offshore Quibdo, ao lado de Milton Taufic Schahin e
Salim Taufic Schahin. Lembrou que a Quibdo, “coincidentemente”, foi
registrada no Panamá pelo mesmo escritório usado para abrir offshores
para Costa.
A maioria dos contratos da Schahin com a Petrobras são firmados por
offshores — de acordo com denúncia de Funaro, seriam 107 offshores.
Procurado, o Grupo Schahin não quis se pronunciar. Magalhães afirmou que
os requerimentos estão parados porque não houve acordo entre oposição e
a base aliada do governo para convocar e investigar as empresas citadas
na Lava-Jato.
Perguntado se era Vaccari o contato com o Grupo Schahin, Funaro sugeriu
que procurassem Kenji Otsuki, a quem chamou de “o homem da propina do
Banco Schahin”. Carlos Eduardo Schahin, que era presidente do banco, foi
condenado em julho último pela Justiça Federal a quatro anos de prisão
por manter depósitos não declarados em nome de uma offshore. A pena foi
convertida em prestação de serviços à comunidade e multa. Na época das
primeiras denúncias, Vaccari havia declarado ter se encontrado apenas
uma vez com Funaro.
Procurados, João Vaccari, o Grupo Schahin e a Petrobras não se manifestaram.
FONTE ROTA 2014
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