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22:28
ANDRADEJRJOR
EDITORIAL FOLHA DE SP
Deputados e senadores,
em especial os mais vividos, sabem o quanto pode ser custosa, em termos
políticos, a defesa de um projeto de lei que afronte o interesse
público. Sempre que podem, portanto, valem-se de expedientes sorrateiros
para tentar encobrir seus propósitos inconfessáveis.
Poucos
instrumentos legislativos prestam-se mais a esse tipo de embuste do que
as medidas provisórias --cujo abuso pelo Executivo, aliás, já representa
uma distorção.
Editada em sua versão original pela Presidência
da República, essa peça normativa responde, cada vez mais apenas na
teoria, a demandas urgentes e relevantes, tendo por isso tramitação
prioritária.
Nessa prioridade inúmeros congressistas enxergam uma
oportunidade. Aproveitando-se da inércia de uma medida provisória
qualquer, nela embutem as mais diversas propostas, desde aquelas que não
alcançariam consenso em uma das Casas até as que jamais mereceriam o
apoio da população.
O exemplo mais recente da anomalia está na
medida provisória 651, assinada pela Presidência em 9 de julho. Quando
chegou ao Congresso, tinha 51 artigos e tratava do Refis, programa que
reduz juros e parcela dívidas tributárias. Ao ser aprovada pela Câmara
na semana passada, contava 114 artigos e versava sobre tudo e mais um
pouco.
Nesse contrabando entrou um dispositivo malicioso. Por
sugestão do senador Gim Argello (PTB-DF), o deputado Newton Lima (PT-SP)
incluiu no texto regra que anistia parte das dívidas de condenados por
desvio de recursos públicos.
Se a lei passar assim como está,
gestores e empresas que tenham cometido irregularidades poderão ganhar o
benefício de pagar o que devem com exclusão de juros e multas, em
parcelas que podem se prolongar por até 15 anos.
Não é pouco o
que está em jogo. Somente em 2013, a Advocacia-Geral da União,
responsável por cobrar dívidas após condenação judicial ou
administrativa, iniciou 2.109 processos com vistas a receber pouco mais
de R$ 1 bilhão.
De acordo com o próprio Newton Lima, a emenda não
prosperará. Ainda que a medida provisória ganhe o aval do Senado, o que
parece provável, o trecho indecoroso será vetado pela presidente Dilma
Rousseff (PT), afirma. Pode ser. Mas convém vigiar de perto.
fonte avarandablogspot
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