POR REINALDO AZEVEDO
Dilma
Rousseff, do PT, que vai fazer 67 anos no dia 14 de dezembro próximo,
reelegeu-se presidente da República. Com a apuração concluída, ela
conquistou 51,64% dos votos, contra 48,36% de seu oponente, Aécio Neves,
do PSDB. Em números absolutos: 54.501.118 contra 51.041.155, uma
diferença de 3.459.963. Dilma conquista o segundo mandato de forma
legítima, segundo as regras do jogo, mas é importante destacar um
aspecto importante. O eleitorado brasileiro é composto, neste 2014, de
142.821.348 pessoas. Logo, ela foi eleita por apenas 38% dos eleitores.
Votaram em branco 1.921.819 pessoas (1,71%), e preferiram anular outros
5.219.787 (4,63%). Ocorre que um contingente gigantesco de 30.137.479
(21,1% do total) preferiram não comparecer às urnas. Vale dizer:
37.279.085 pessoas — quase a população da Argentina — preferiu não votar
em ninguém. Estamos falando de mais de um quarto do eleitorado: 27,44%.
E assim é com o
absurdo instituto do voto obrigatório. Um presidente é ungido, note-se,
com o voto da minoria do eleitorado. Parece-me que um dos deveres de
Dilma é tentar atrair a adesão daqueles que preferiram outro caminho. E é
nesse ponto que as coisas podem se complicar para ela.
Vamos ser
claros? O PT não se caracteriza exatamente por fazer campanhas limpas.
Gosta de dossiês e de montar bunkers para destruir reputações; adere com
impressionante presteza às práticas mais odientas da política;
transforma adversários em inimigos; não distingue a divergência legítima
da sabotagem e o oponente de um alvo a ser destruído; julga-se dotado
de um exclusivismo moral que lhe confere o suposto direito de enlamear a
vida das pessoas. Não foi diferente desta vez. Ou foi: a violência
retórica e as agressões assumiram proporções inéditas. Nunca se viram
tanta baixaria, tanta sordidez e tanta mentira numa campanha.
Vejam de
novo o placar: Dilma venceu Aécio por uma pequena diferença. Quantos
desses votos são a expressão do terror, do medo, do clientelismo mais
nefasto? Não! Não se trata, é evidente, de tachar os eleitores de Dilma
de “desinformados” — até porque, felizmente, a democracia ainda não
inventou um mecanismo que distinga os “bons” dos “maus” votos. Mas é
preciso ser um pilantra para ignorar que pessoas economicamente
vulneráveis, que estão à mercê do Bolsa Família, acabam decidindo não
exatamente com menos informação, mas com menos liberdade.
Multiplicaram-se
aos milhares as denúncias de chantagens aplicadas contra as pessoas que
recebem benefícios sociais do Estado brasileiro. Cadastrados do Bolsa
Família e do Minha Casa Minha Vida passaram a receber torpedos e a ser
bombardeados com panfletos afirmando que Aécio extinguiria os programas,
como se estes pertencessem ao PT, não ao Brasil. De própria voz, Dilma
chamou os tucanos de inimigos do salário mínimo — que teve ganho real
acima de 85% no governo FHC, superior, proporcionalmente, aos reajustes
concedidos pela própria presidente reeleita. E daí? As mentiras sobre o
passado foram constrangedoras: FHC teria entregado o país com uma
inflação maior do que a que recebeu; tucanos teriam proibido a
construção de escolas técnicas; o governo peessedebista teria sido
socialmente perverso… E vai por aí. Sobre o futuro do Brasil, não disse
uma miserável palavra a não ser um daqueles miraculosos programas —
agora é a vez do “Mais Especialidades”…
Quantos
dos 3.459.963 votos que Dilma obteve a mais do que Aécio se consolidaram
justamente no terror? Ora, esbarrei em São Paulo com peças
verdadeiramente sórdidas de agressão à honra pessoal do tucano. Estatais
foram usadas de maneira vergonhosa na eleição, como se viu no caso dos
Correios. Em unidades de bancos público, como CEF e BB, houve farta
distribuição de panfletos contra o candidato do PSDB.
É claro
que o medo, ainda que por margem estreita, venceu a esperança. Dilma
assumirá o novo mandato, no dia 1º de janeiro, com boa parte dos
brasileiros sentindo um certo fastio de seu governo. Pior: o país parou
de crescer, os juros estão nas nuvens, e a inflação, raspando o teto da
meta. Dilma também não tem folga fiscal para prebendas, e o cenário
internacional não é dos mais hospitaleiros. Não será fácil atrair
aqueles que a rejeitaram porque vão lhe faltar os instrumentos de
convencimento.
Petrolão
Mais: Dilma já assumirá o novo mandato nas cordas. Além de todas as dificuldades com as quais terá de lidar, há o estupefaciente escândalo do Petrolão. A ser verdade o que disse sobre ela o doleiro Alberto Youssef, não vai terminar o mandato; será impichada — e por boas razões.
Mais: Dilma já assumirá o novo mandato nas cordas. Além de todas as dificuldades com as quais terá de lidar, há o estupefaciente escândalo do Petrolão. A ser verdade o que disse sobre ela o doleiro Alberto Youssef, não vai terminar o mandato; será impichada — e por boas razões.
O
escândalo não vai se desgrudar dela com tanta facilidade. Youssef pode
estar mentindo? Até pode. Mas ele deve conhecer as consequências de
fazê-lo num processo de delação premiada. Ele pode não servir para
professor de Educação Moral e Cívica, mas burro não é. E que se note: em
meio a crises distintas e combinadas, a governanta promete engatar uma
reforma política, com apelo a plebiscito. Vêm tempos turbulentos por aí,
podem esperar.
Dilma
venceu por um triz porque o terrorismo funcionou. Sua campanha foi bem
além do limite do razoável. Seu governo já nasce velho, com parcela
considerável do eleitorado a lhe devotar franca hostilidade. E, por
óbvio, seus “camaradas” à esquerda não vão lhe dar folga. A
petista assumirá o novo mandato no dia 1º de janeiro tendo à frente o
fantasma do impeachment e a realidade de uma economia estagnada.
O Brasil
vai acabar? Não! Países não acabam. Eles podem entrar em declínio
permanente. Mas Dilma pode ficar tranquila: nós nos encarregaremos de
lembrar que ela foi eleita para governar um país segundo regras que
estão firmadas pelo Estado de Direito. Ela pode contar com a nossa
vigilância. Agora, mais do que nunca.
REINALDO AZEVEDO
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