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10:50
ANDRADEJRJOR
AÉCIO45
EDITORIAL O ESTADÃO
A frequência com que as
palavras "nazismo" e "nazista" são usadas para insultar tende a ser
tanto maior quanto menor o conhecimento dos que as empregam do que foi
efetivamente o mais hediondo regime que o Ocidente experimentou ao longo
de sua história e do que fizeram os seus seguidores. Se mesmo na Europa
as novas gerações parecem saber cada vez menos da barbárie que a
devastou há 70 anos, não surpreende que em outras paragens os termos que
a revestem tenham se tornado ao mesmo tempo corriqueiros e caricaturais
- e, nessa medida, uma ofensa permanente à memória de suas vítimas. Um
exemplo de livro de texto dessa banalização do mal acaba de ser dado
pelo ex-presidente Lula, no lugar onde mais ele fica à vontade para
usufruir da sua inesgotável propensão à baixeza: um palanque eleitoral.
Ao
lado da afilhada Dilma Rousseff, em um comício que reuniu cerca de 40
mil pessoas no Recife, anteontem, ele equiparou as supostas agressões ao
Nordeste da campanha do tucano Aécio Neves e de seus aliados às
práticas nazistas na 2.ª Guerra Mundial. Lula falava para um público
que, em geral, tem disso informação precária ou nenhuma. Mas aprendeu,
como quase toda a gente, que o tal do nazismo é a coisa mais medonha que
se pode conceber. Portanto, se ouve de Lula que a esse extremo chegam
os presumíveis preconceitos e injustiças da oposição "contra nós", os
nordestinos, deve ser a pura verdade. Lula não imaginaria que o
sentimento de revolta que se esmerava em inculcar à sua plateia a
dotaria do poder mágico de votar duas vezes em Dilma na decisão de
domingo para se vingar dos "preconceituosos". Nem seria preciso: no
primeiro turno, vencido em Pernambuco por Marina Silva, Dilma obteve 44%
dos sufrágios ante menos de 6% de Aécio.
Logo se vê que a fúria
de Lula não tem nada que ver com um hipotético imperativo de conseguir
que a sua apadrinhada prevaleça numa capital, em um Estado e numa região
onde ela e o seu adversário - a exemplo do que se passa em âmbito
nacional, segundo as pesquisas - estariam engajados numa guerra sem
quartel pelo voto de cada eleitor. O comício do Recife foi apenas (e
tudo isso) uma oportunidade para ele dar vazão ao ódio que sente pelas
"elites" - e que soube guardar no congelador quando, presidente, se
amancebou com o que elas têm de pior. Muito mais do que o combate
político, é esse sentimento que o leva a perder o que ainda possa ter em
matéria de senso de proporção, ao comparar os adversários não só aos
nazistas, mas a Herodes, "que matou Jesus Cristo por medo de ele se
tornar o homem que virou".
Já investir contra Aécio, como também
fez em Pernambuco, acusando-o de "grosseiro" com Dilma, é frio cálculo
eleitoral. O neofeminista da temporada havia feito a sua aparição na
antevéspera, em outro comício, então em Itaquera, na zona leste
paulistana. "Esse rapaz não teve educação de berço para respeitar as
mulheres", atacou. "E, sobretudo, uma presidente, mãe e avó."
Logo
ele, que fez com brio a sua parte na profusão de baixarias para
desqualificar a candidata Marina Silva na disputa do primeiro turno. A
campanha de Dilma decerto tentará até o último instante mostrar um Aécio
desdenhoso com as mulheres. Acredita que a ligeira ultrapassagem do
senador pela presidente, no empate técnico registrado na pesquisa de
segunda-feira do Datafolha, se deve em parte à irritação de uma parcela
do eleitorado feminino com o fato de Aécio ter chamado Dilma de
"leviana" em um debate.
Mas vêm de muito antes os primeiros
registros da extensa folha corrida de Lula, no quesito relações de
gênero. Todos quantos o conhecem de longa data - e também os seus
interlocutores mais recentes, porque nisso ele não mudou - sabem o que
ele diz das mulheres em conversas privadas, a sua queda por chulas
piadas machistas, a sua prontidão para atribuir à condição feminina
defeitos percebidos, por exemplo, em companheiras de partido e
servidoras federais. Sem falar no palavreado que usou publicamente -
numa feira de produtos comestíveis em Pelotas, em junho de 2003 - ao
falar de seu primeiro filho com a esposa Marisa Letícia: "A galega
engravidou logo no primeiro dia, porque pernambucano não deixa por
menos".
FONTE AVARANDABLOGSPOT
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