MUDA BRASIL AÉCIO PRESIDENTE45
Paulo Guedes O Globo
A corrupção e a estagnação são filhas do dirigismo econômico e da concentração de poder político.
Os negócios de grandes grupos de interesse econômico com partidos
políticos desidratados a serviço de um desenvolvimentismo estatizante
são o nosso passado recente sob o regime militar. Ali foi moldado este
aparelho de Estado dirigido por uma tecnoburocracia administrativa
centralizada, este Leviatã alimentado por uma aliança entre
autoritarismo político e oportunismo econômico.
A associação histórica entre enormes estruturas burocráticas de
administração centralizada e a degeneração de regimes políticos é bem
documentada. Tocqueville registrou a tradição dirigista francesa de
centralização burocrática como um eixo de autoritarismo atravessando os
tempos dos monarquistas, dos revolucionários e dos bonapartistas.
O despotismo absolutista, o Terror e as guerras napoleônicas resultaram
dessa engrenagem dirigista. O mesmo dirigismo burocrático prussiano
arquitetado por Bismarck, da máquina militarista imperial aos correios,
às ferrovias e à previdência social, foi muito além do Antigo Regime.
Prosperou em meio à avalanche social-democrata da República de Weimar e
atingiu seu clímax com o capitalismo de Estado sob o regime do Partido
Nacional-Socialista na Alemanha de Hitler.
Das vítimas do stalinismo aos dissidentes na China contemporânea e aos
não bolivarianos hoje perseguidos, a questão política não pode ser
apenas como chegar ao poder, mas essencialmente em que grau se exerce
tal poder. Como nunca se sabe quem será o próximo a controlar a máquina
de moer adversários, é fundamental limitar seu grau de arbítrio.
O caminho para asfixiar a corrupção e recuperar a dinâmica de
crescimento é acelerar as reformas de modernização. “A economia perdeu
sua vitalidade. Acumulam-se os problemas. Instalaram-se a deterioração e
a estagnação”, diagnosticava Mikhail Gorbachev em “Perestroika” (1987).
“A mais importante exigência é que nossos quadros tenham elevado sentido
moral e sejam honestos, incorruptíveis. A prioridade é restabelecer a
imagem de nossos dirigentes, que foi denegrida pelos crimes cometidos
por elementos corruptos”, prescrevia Gorbachev em “Glasnost” (1987).
A corrupção e a estagnação são filhas do dirigismo econômico e da
concentração de poder político. O mesmo enigma que devora hoje a classe
política brasileira.
FONTE ROTA 2014
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