, editorial do Estadão
Espoliada, encabrestada politicamente e transformada em palco de um dos
maiores escândalos da história republicana, a maior empresa brasileira, a
Petrobrás, foi rebaixada mais uma vez por uma agência de avaliação de
risco. Citando o alto endividamento, as perdas causadas pelo aumento do
dólar e pelo controle dos preços de combustíveis e as prováveis
dificuldades de recuperação nos próximos dois anos, a Moody's anunciou
na terça-feira um novo corte da nota e a manutenção da perspectiva
negativa. Essa perspectiva indica o risco de mais uma redução da nota,
no próximo ano, se o endividamento continuar aumentando e se as
condições financeiras da companhia se agravarem.
A avaliação negativa da Petrobrás envolve claramente uma reprovação da
interferência política na fixação de preços dos combustíveis. Mantendo a
orientação de seu antecessor, a presidente Dilma Rousseff tentou
maquiar a inflação por meio do controle de preços dos derivados de
petróleo. Como as cotações caíram recentemente no mercado internacional,
o desalinhamento pode ter desaparecido, tornando dispensável - ou
inviável - um reajuste. Mas as perdas de receita acumuladas em vários
anos permanecem.
Com receita insuficiente e forçada a executar um enorme programa de
investimentos, a Petrobrás aumentou sua dívida. O aumento da alavancagem
- a relação entre a dívida e o capital próprio da empresa - já havia
motivado em 2013 um rebaixamento da classificação pela Moody's. Na
época, a Petrobrás já era apontada como a empresa mais endividada do
mundo, proporcionalmente à sua geração de caixa.
Com a revisão recém-anunciada, a nota passou de Baa1 para Baa2, ainda
dentro do grau de investimento, isto é, ainda com um selo de qualidade
para captar financiamento. A empresa só perderá o grau de investimento,
na escala da Moody's, se cair mais duas vezes - para o nível Baa3 e daí
para a zona classificada como perigosa para os credores. Mas o
rebaixamento é um sinal de alerta.
Na escala da Standard & Poor's (S&P), outra agência de avaliação
de risco, a situação da Petrobrás é mais precária. Em março deste ano, a
S&P cortou para BBB- as notas da Petrobrás e da Eletrobrás, para
ajustar a posição das duas estatais à nova classificação do crédito
soberano do Brasil. O nível BBB- é o mais baixo na faixa correspondente
ao grau de investimento. Uma nova queda levará o Brasil e as empresas
controladas pelo governo ao chamado grau especulativo.
O rebaixamento das empresas, nesse caso, resultou de uma avaliação
negativa da política econômica e dos sinais dados pela presidente Dilma
Rousseff. As perspectivas de baixo crescimento e de maior deterioração
das contas públicas foram decisivas para a piora da nota do País.
Não se cogita no momento novo rebaixamento da classificação do Brasil,
disse à Agência Estado a presidente para o Cone Sul da S&P, Regina
Nunes. Mas dificilmente o País voltará a subir um degrau, para o nível
BBB, "sem melhora real da dinâmica da dívida pública". Seja quem for o
presidente eleito, o governo terá de cuidar simultaneamente,
acrescentou, da retomada do crescimento econômico, do combate à inflação
e do ajuste das contas fiscais.
As empresas de avaliação de risco limitam-se a apontar, em seus
relatórios, os problemas visíveis, como o baixo crescimento, a inflação
elevada, o mau estado das contas públicas e, no caso da Petrobrás, o
endividamento e o desalinhamento dos preços. Podem indicar as
possibilidades de agravamento da situação. Mas dificilmente avançam no
exame das políticas seguidas pelos governos. Se o fizessem, teriam de
apontar detalhes como o aparelhamento das estatais, a subordinação
dessas empresas a objetivos pessoais e partidários e a amplitude da
interferência em sua administração. Seria preciso mencionar os
investimentos desastrosos, como a Refinaria Abreu e Lima, a política de
conteúdo nacional, muitas vezes custosa e contraproducente, e, é claro,
os atos de corrupção. Em alguns casos, o relatório acabaria parecendo um
inquérito policial.
fonte avarandablogspot
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