editorial da Folha de São Paulo
Os 12 anos de PT na Presidência da República transcorreram na maior
parte do tempo sob rara configuração internacional, favorável ao Brasil.
As condições mudaram, porém, e quem for eleito precisará compreender os
novos desafios, bem diferentes dos enfrentados na década passada.
No governo Lula, a China emergiu como locomotiva global, assumindo a
liderança no consumo de matérias-primas e multiplicando seu preço. A
tonelada do ferro, por exemplo, custava US$ 28 no ano 2000; saltou para
US$ 180 em 2011.
O impacto nas contas externas foi grande. Pela primeira vez em décadas, o
Brasil manteve saldos positivos nas transações de bens e serviços com o
restante do mundo. Entraram dólares para investimentos, o país acumulou
US$ 352 bilhões em reservas e eliminou a dívida externa pública.
A contrapartida interna foi o crescimento, impulsionado ainda por políticas de distribuição de renda e pelo acesso ao crédito.
De 2011 para cá, o cenário é outro. A China desacelera; os preços das
exportações brasileiras caem. Trata-se de fenômeno persistente.
As economias emergentes também têm sofrido com o baixo dinamismo do
mundo desenvolvido. Ao mesmo tempo, é provável que esteja chegando ao
fim o período de juros zero nos EUA, o que levará recursos de volta para
aquele país.
Transformações de fundo ocorreram, além disso, nos padrões globais de
produção, cada vez mais integrados em grandes cadeias lideradas por
empresas com escala e tecnologia de ponta. Multiplicaram-se os acordos
regionais, enquanto o multilateralismo da Organização Mundial do
Comércio -e o Brasil- ficou paralisado.
O governo optou por atuação defensiva, erguendo proteções tarifárias e
isolando o país da concorrência internacional. Colheu a estagnação da
produtividade em um mundo cada vez mais desafiador.
O Brasil não contará nos próximos anos com os bons preços das
matérias-primas. À luz dos desequilíbrios acumulados, dificilmente terá
financiamento externo abundante se as contas públicas não forem postas
em ordem.
O quadro externo demanda nova estratégia. A integração global é chave
para fazer deslanchar a capacidade produtiva no país e, com ela, gerar
empregos de qualidade.
fonte rota2014
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