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22:30
ANDRADEJRJOR
EU VOTO AÉCIO45
EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
Lá se vão mais de 20
anos, desde que frase dita por um ministro da Fazenda nos bastidores de
entrevista à tevê vazou via satélite e terminou por levá-lo a pedir
demissão do cargo. "O que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente
esconde", disse à época o embaixador Rubens Ricupero. A máxima,
inadvertidamente confessada, entrou para a história política brasileira.
E agora crescem as evidências de que a prática esteja em alta.
É
que, em pleno processo de sucessão presidencial, mais um ocupante de
chefia do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) pôs o cargo à
disposição, reforçando a suspeita de ingerência política na divulgação
de dados oficiais. Primeiro foi Herton Ellery Araújo, que deixou a
Diretoria de Estudos e Políticas Sociais. Desta vez, Marcelo Medeiros
pede para sair da Vice-Coordenadoria de Estudos de População,
Desenvolvimento e Previdência.
Herton havia sido impedido de
apresentar trabalho anual da entidade mostrando que, de 2012 para 2013, a
pobreza extrema parou de cair no país. Medeiros não expressou na carta o
motivo do seu pedido de exoneração, mas testemunhas ouviram reclamações
dele contra o represamento de dados. Sem convencer, o instituto alega
respeito à legislação eleitoral para segurar a divulgação de resultados
de estudos fundamentais ao norteamento das políticas públicas.
Nem que o caso do Ipea fosse um fato isolado, a explicação deixaria de
ser questionável. Só que a credibilidade das estatísticas nacionais, até
há pouco de excelência reconhecida inclusive por organismos
internacionais, vem sendo posta em dúvida quase de modo generalizado
nesta campanha eleitoral e mesmo antes dela. Grave exemplo foi a
correção de última hora produzida pelo IBGE na Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios do ano passado (Pnad 2013). Num passe de mágica,
virou queda o que seria aumento da desigualdade no país.
Na
esteira da "falha banal, de fácil detecção", como a presidente Dilma
Rousseff classificou o erro do IBGE, soube-se que o quadro de servidores
do instituto encolheu 14% no atual governo - de 7.076 para 6.083
pessoas de janeiro de 2011 para cá. Não bastasse, o Projeto de Lei do
Orçamento da União prevê menos verba para pesquisas em 2015: de R$ 462
milhões este ano, para R$ 286,2 milhões no próximo. Resultado: foram
suspensos o Censo Agropecuário 2015 e a Contagem da População 2016.
Esse
caldo de cultura de "o que é bom a gente fatura, o que é ruim a gente
esconde" já foi tratado pelo Tribunal de Contas da União como
"contabilidade criativa". Na macroeconomia, costuma receber outro nome
jocoso: "pedaladas fiscais". O jeito meio brincalhão de encarar os
desvios não significa, contudo, que eles tenham menor gravidade. Pelo
contrário. Perde o planejamento governamental. E não só a máquina
pública é contaminada.
O artificialismo enevoa a realidade. A
credibilidade internacional do país é posta em jogo. A maquiagem também
confunde a iniciativa privada, atrapalhando investimentos. É
estarrecedor que o superavit primário, o cumprimento das metas de
inflação, o preço dos combustíveis e da energia tornem-se incógnitas.
Urge, pois, restabelecer a verdade, doa em quem doer, a favor da
transparência, da democracia, da vida republicana, enfim.
FONTE AVARANDABLOGSPOT
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