Com Blog do Josias
Após prevalecer sobre Aécio Neves na mais apertada disputa presidencial da história do país, Dilma Rousseff fez um ótimo discurso protocolar.
Manifestou o desejo de “construir pontes” com todos os setores da
sociedade. Declarou-se aberta ao “diálogo”. E prometeu honrar o desejo
de mudança manifestado pelo eleitorado.
“Algumas vezes na história, os resultados apertados produziram mudanças
mais fortes e rápidas do que as vitórias amplas”, leu Dilma. “É essa a
minha esperança. Ou melhor, a minha certeza do que vai ocorrer…”
O futuro de Dilma chegou com tal rapidez que virou, ali mesmo, no
púlpito da vitória, um futuro do pretérito. O amanhã da presidente
reeleita estava gravado nas rugas da terrível cara de ontem dos aliados
que a acompanham hoje.
Lá estava o vice-presidente Michel Temer, cujo partido, o PMDB, se
equipa para reconduzir Renan Calheiros à presidência do Senado e
acomodar Eduardo Cunha no comando da Câmara.
Lá estava Ciro Nogueira, presidente do PP, o partido que mordia propinas
na diretoria de Abastecimento da Petrobras na época do ex-diretor Paulo
Roberto Costa, hoje delator e corrupto confesso.
Lá estava Rui Falcão, presidente de um PT prestes a arrostar escândalo
maior do que o do mensalão. Lá estava Antonio Carlos Rodrigues, do PR,
uma legenda comandada pelo presidiário Valdemar Costa Neto, do escândalo
anterior.
Lá estava Carlos Lupi, varrido em 2011 da pasta do Trabalho, ainda hoje
sob domínio do PDT e sob investigação da Polícia Federal.
Lá estavam Gilberto Kassab, Vitor Paulo, e Eurípedes Júnior, cujas
legendas —PSD, PRB e Pros— são eloquentes evidências de que o país
precisa de uma reforma política. Será a primeira reforma, anunciou a
re-presidente.
A alturas tantas, Dilma soou assim: “Terei um compromisso rigoroso com o
combate à corrupção e com a proposição de mudanças na legislação atual
para acabar com a impunidade, que é protetora da corrupção.”
A frase chega com 12 anos de atraso.
Lula, que também estava lá,
deveria tê-la transformado em mantra desde 2003. Preferiu honrar as
alianças esdrúxulas a salvar a biografia. Subverteu até a semântica,
apelidando o cinismo de “amadurecimento político”.
Dilma retorna ao Planalto embalada pelo pior tipo de ilusão que um
presidente pode ter: a ilusão de que preside. Seu poder efetivo não vai
muito além dos três andares da sede do governo. Fora desses limites todo
governante é, por assim dizer, governado pelas pressões da economia e
pelos entrechoques das forças contraditórias que o cercam.
O que a presidente reeleita pode fazer para aproveitar o embalo do
efêmero triunfo eleitoral é projetar as aparências do poder. Que a
internet e os meios de tradicionais de comunicação cuidariam de
propagar.
Para espelhar a imagem que o eleitor projetou nela, falta a Dilma uma
disposição de zagueiro à antiga. Do tipo que mira o calcanhar adversário
nas primeiras entradas do jogo, de modo a não deixar dúvidas sobre quem
manda na grande área.
O problema é que os inimigos de Dilma estão muito próximos dela. A
re-presidente teria de distribuir pontapés na turma do seu próprio time.
Do contrário, perceberá logo, logo que o tempo no segundo mandato não
passa. Já passou!
FONTE ROTA2014
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