EDITORIAL CORREIO BRAZILIENSE
Depois de vitória apertada, cujo vencedor só se tornou conhecido com a apuração das últimas urnas, a presidente reeleita fez o que se esperava que fizesse. Falou à nação. Cercada de correligionários e líderes dos partidos que compõem a coligação, Dilma Rousseff leu discurso do qual sobressaem duas ideias-chave. De um lado, convoca à união e ao diálogo. De outro, promete reforma política e combate efetivo à corrupção.
O resultado (51,6% contra 48,4%) e a distribuição regional dos votos válidos dão clara ideia da divisão do país. Dois Brasis emergiram da campanha marcada por agressões e poucas propostas. Um deles, que abrange os estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, pede mudanças - avanços nas conquistas amealhadas ao longo de 25 anos da Constituição Cidadã. O outro quer, sobretudo, continuidade dos programas sociais sem, contudo, abdicar de progressos.
Daí por que a presidente repetiu tantas vezes o verbo continuar. É bom que Dilma esteja, como parece estar, atenta às diferenças de expectativas e se empenhe em satisfazê-las. Numa nação tão desigual quanto a nossa, a heterogeneidade não significa ilhas distantes de imenso arquipélago de 8,5 milhões de quilômetros quadrados. Ao contrário. É quadro natural no país cujo processo de desenvolvimento ocorreu em épocas e estágios distintos.
O desafio da petista, como frisou no discurso que sucedeu à proclamação do resultado do pleito de 2014, é a construção de pontes. Merece aplauso a promessa de diálogo. A dificuldade de conversar foi uma das marcas do mandato da presidente. Em política, a escassez de troca de ideias cria ressentimentos, impede a renovação e compromete o andamento de projetos.
Parlamentares, ministros, governadores, assessores, empresários, servidores públicos, ONGs precisam ter canais de comunicação com o Planalto. O cenário do país que Dilma herdará de si mesma apresenta nuvens carregadas: economia estagnada, inflação teimosa, dados maquiados, base política fragmentada, oposição robustecida, denúncias de corrupção arrasadora, educação sem qualidade, segurança precária, saúde na UTI, burocracia indomável, Estado inchado e ineficiente.
Unir forças, convocar quadros competentes, promover faxina rápida e efetiva nos "maus-feitos" que indignam a sociedade e parecem plantar raízes profundas - são passos iniciais importantes para provar que o discurso não se resume a palavras soantes. É fato. Promessa que chama a atenção é o empenho para "deflagrar a reforma política por meio de plebiscito". Vale lembrar que os brasileiros ouviram as mesmas juras depois dos protestos de 2013. O compromisso não avançou. Avançará agora?
fonte avarandablogspot
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