Leonêncio Nossa - O Estado de São Paulo
Na equipe de Dilma, ministros duram dias, ou, no caso de Lula, meia hora
A
síndrome do mandato relâmpago atingiu, na Esplanada dos Ministérios,
estrelas da política, técnicos experientes na burocracia e petistas
turbinados num momento de falta de quadros. O processo de impeachment da
presidente Dilma Rousseff forjou uma lista de ministros com curta
duração no cargo.
O
bloco é liderado por um dos símbolos da habilidade em apagar incêndios e
reduzir crises. Chamado para salvar o governo, o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva foi nomeado para a Casa Civil em 17 de março, mas,
por decisão judicial, não conseguiu sentar na cadeira de ministro.
Lula não teve respiro no cargo. Meia hora depois de sua posse, o juiz
federal Itagiba Catta Preta Neto deu liminar suspendendo a nomeação. O
ato do magistrado foi logo derrubado, mas no dia seguinte o ministro do
Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes aceitou pedido de partidos
oposicionistas para suspender a posse. Dias antes, Mendes antecipou a
decisão ao acusar o ex-presidente de buscar o cargo de ministro para
garantir o foro privilegiado no processo de investigação da Lava Jato.
Lula ainda espera uma decisão final do STF.
O
procurador baiano Wellington César Lima, apadrinhado do ministro Jaques
Wagner, assumiu o Ministério da Justiça no dia 3 de março. Menos de uma
semana depois, era desligado da função pelo Planalto, que atendia
determinação da Justiça proibindo representantes do Ministério Público
de assumir cargos fora da instituição.
A
tentativa do Planalto de formar às pressas uma coalizão para evitar a
aprovação do impeachment na Câmara aumentou o número de ministros de
curta passagem pelo governo. O caso mais dramático foi a nomeação do
deputado Mauro Lopes (PMDB-MG) na Secretaria da Aviação Civil. Menos de
um mês depois de entrar para o governo, Lopes se desligou para voltar à
Câmara e participar da votação do impeachment.
Antes
disso, no entanto, ele passou pelo Palácio Jaburu, onde foi convencido
pelo vice-presidente Michel Temer a votar pelo afastamento de Dilma. A
presidente se espantou quando viu, pela TV, o deputado anunciar seu
voto.
Com
a saída de Mauro Lopes, a secretaria foi ocupada no último dia 29 por
Carlos Eduardo Gabas. Ex-ministro da Previdência Social, Gabas recebeu
da presidenteDilma Rousseff a tarefa de tirar da gaveta as concessões de
aeroportos antes da votação do impeachment no plenário do Senado,
marcada para o próximo dia 11.
Outro
conhecido de Dilma, o técnico de carreira da Petrobrás Marco Antonio
Martins Almeida, recebeu, no último dia 21, um telefonema com a notícia
de que comandaria o Ministério de Minas e Energia, pasta onde trabalha
há quase 17 anos. Se Dilma sair, ele terá ficado três semanas no cargo.
O
economista gaúcho Alessandro Teixeira pode permanecer pouco tempo à
frente do Turismo, mas já deixou seu nome gravado na crônica política
brasiliense. Há nove dias no cargo, ele conseguiu a façanha de se
envolver em dois escândalos. A foto da família no gabinete ministerial
foi substituída por um ensaio sensual da mulher, a modelo Milena Santos,
na sala de trabalho.
Dias
depois, descobriu-se que Teixeira nomeara, em novembro, uma tia da
mulher para um cargo com salário de R$ 19,4 mil na Agência Brasileira de
Desenvolvimento Industrial, órgão pelo qual tinha passado.
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