Kim Kataguiri: Folha de São Paulo
Às vezes –quando não estou recebendo dólares ensopados de petróleo de
bilionários americanos, conchavando golpes mirabolantes com meus
comparsas tucanos ou jogando tênis no Qatar com meu grande amigo Cunha–,
penso sobre como a política e a sociedade brasileiras poderiam ser
diferentes.
Imaginem um sistema político no qual o poder seja dividido em três. Um
cuidaria da administração, outro criaria leis, e o terceiro garantiria
que estas fossem cumpridas. Todos eles se controlariam mutuamente e
trabalhariam de maneira harmônica, mas independente. Isso significa, por
exemplo, que o Poder administrador jamais poderia submeter o Poder
legislador às suas vontades. As normas jurídicas que delimitariam o
escopo de cada um dos Poderes estariam escritas numa Carta cujas leis
estariam acima de todas as outras. "Constituição" me parece um bom nome.
Aqueles que disputassem uma vaga em um desses Três Poderes deveriam
fazê-lo dentro das regras previstas nessa Constituição. Uma vez
conquistado o cargo, as regras continuariam valendo, e, caso a pessoa
transgredisse alguma delas, a principal punição seria perder seu posto
–especialmente se o ato cometido envolvesse grandes somas de dinheiro e
representasse uma ameaça à divisão do poder.
Já imaginei coisas que só poderiam ter saído da cabeça de um japonês de
humanas: militantes políticos que financiassem seus movimentos sem
dinheiro público, e artistas que de fato fizessem arte, em vez de
defender uma elite política corrupta com o dinheiro do pagador de
impostos. Mais doido ainda seria uma Corte que protegesse as regras da
Constituição e não desse espaço para militantes políticos de toga.
Mas calma! A parte mais absurda, com certeza, vem agora. Talvez seja a
coisa mais absurda já pensada. Imaginem se as pessoas se preocupassem
mais com a competência do que com o sexo, a cor, o cabelo ou o tamanho
da unha do dedo mindinho daqueles que governam?
Imagino como seria se as pessoas se preocupassem mais com a coisa
pública do que com os interesses de partidos políticos. Parece meio
doido, não? "Res publica". República. É uma bela palavra. Pena que tenha
gente tão pequena querendo acabar com ela.
extraídaderota2014blogspot
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