Por Andrei Meireles - Os divergentes
Sucesso zero. Um dos alvos, o senador Walter Pinheiro, em uma conversa informal no cafezinho do Senado, foi taxativo: “Não há hipótese dessa turma mudar”. ... Ele raciocinava sobre o comando férreo que a corrente majoritária do partido sempre exerceu, em todas as decisões partidárias, desde que José Dirceu tomou suas rédeas. Nisso ele até tem razão.
Mas, foi essa mesma turma que bancou a guinada do PT na Carta aos Brasileiros que pavimentou a eleição de Lula em 2002. São conceitos que, mexidas aqui e ali, sempre bancaram a aliança do PT com o mercado financeiro. O impeachment só não ocorreu no ano passado porque os banqueiros o acharam precipitado e resolveram dar uma nova chance para Dilma.
Até aqui, com os mais variados discursos, o PT jogou o jogo democrático. Mesmo com o discurso marqueteiro de que a Câmara e o Senado, com o aval do Supremo Tribunal Federal, deram um “golpe parlamentar”. Mas, a resolução do Diretório Nacional do PT tem um parágrafo que nega toda a caminhada do PT na democracia e soa como um auto atestado de de óbito. Vamos a ele, na íntegra:
“Fomos igualmente descuidados com a necessidade de reformar o Estado, o que implicaria impedir a sabotagem conservadora nas estruturas de mando da Polícia Federal e do Ministério Público Federal; modificar os currículos das academias militares; promover oficiais com compromissos democráticos e nacionalistas; fortalecer a ala mais avançada do Itamaraty e redimensionar sensivelmente a distribuição de verbas publicitárias para os monopólios da informação”.
Deixa ver se entendi. No momento em que o chavismo agoniza na própria Venezuela, o PT lamenta não ter forçado uma opção chavista no Brasil? Porque o papel e o protagonismo do Ministério Público e da Polícia Federal são admiráveis conquistas proporcionadas pela mais democrática Constituição do País, “a cidadã”, como a qualificou o estadista Ulysses Guimarães. Mesmo, nos últimos 13 anos, os governos petistas terem nomeados todos os chefes do ministério público e da Polícia Federal. E, ainda, os ministros do Supremo Tribunal Federal.
Flagrado em malfeitos, o PT renega o seu melhor discurso, o de que não impediu as investigações. Nessa mesma resolução, o PT afirma que “a Operação Lava Jato desempenha papel crucial na escalada golpista”.
A mais alta direção nacional do PT, também, pisa muito forte na bola quando se arrepende de não ter aparelhado instituições fundamentais do estado. Já apanharam muito, mas não custa repetir uma autocrítica da cúpula petista: “promover oficiais com compromissos democrático e nacionalista”. Quem foi o imbecil que escreveu isso? Desde a proclamação da República, com seu lema positivista Ordem e Progresso ( agora, aliás, resgatado), a relação entre militares e democracia é uma questão. Como isso evoluiu ao longo da história deixou cicatrizes e lições.
Esse jogo finalmente mudou com o fim da última ditadura militar e a mais democrática Constituição de nossa história. Que bom que isso acabou. Os comandantes militares respondem ao ministro da Defesa, um cargo civil. Que critérios o PT imagina que poderia ter usado para decidir se um ou outro oficial da Marinha, Exército e Aeronáutica seria mais democrático ou nacionalista para ser promovido?
A burrice não acaba aí. Dizem que o PT errou ao não “fortalecer a ala mais avançada do Itamaraty”. Na realidade, com a orientação do Marco Aurélio Garcia, o PT teve vários êxitos nessa área — alguns vexames e desastres para o país. Não adianta os petistas lamentarem. O Itamaraty conseguiu sobreviver, com alguma dignidade, até na ditadura.
Sem falar em corrupção, em que a defesa do PT é dizer que virou igual os outros, não consigo acreditar porque o partido atribui seu fracasso ao desempenho dentro das regras legais de algumas das melhores instituições do país. Como bem qualificou o ex-senador petista Delcídio Amaral, em algum momento de sua trajetória, o PT se tornou um saci pererê que se imagina uma centopeia. Como gosta de dar tiro no próprio pé.
extraídadeblogdosombra
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