Igor Gielow : Folha de São Paulo
O economista Edmar Bacha cunhou nos anos 1970 o termo Belíndia, ficção
que externava a nossa miséria distributiva ao combinar no Brasil o
conceito de uma nação que unia a Bélgica (o mundo da tal elite) e a
Índia (todo o resto).
Esta semana que acaba provou novamente a obsolescência do modelo. A
Índia figurativa venceu, e isso não faz justiça à parte Bélgica do país
do Sul da Ásia, que é um pujante celeiro de cérebros e inovações –a
parte Índia-Índia deixo para outro dia.
Primeiro, os grampos revelados por obra do repórter Rubens Valente, desta Folha, exprimindo as maravilhas do pensamento de nossa casta política.
Eles não provam nenhum "golpe", como os ingênuos e/ou espertos se
apressam a dizer, mas são exemplos acabados de como um estrato mínimo da
população trata de seus interesses: com a certeza de alguma impunidade
possível por meio do famoso acordão.
Isso exclui a possibilidade de manipulações outras? Claro que não, por
ora ao menos. Mas demonstra didaticamente como se desenrola a falência
moral de nossos brâmanes, para ficar na analogia hindu.
Nossa Índia que falhou ficou explícita com o caso do estupro da
garota no Rio. "Gang rape" à Nova Déli? O episódio mostra o fracasso
desse eufemismo chamado "pacificação de comunidades", naturalmente sem
imputar violência à pobreza ou à maioria inocente que lá mora, para não
falar na impotência cultural ao tratar da barbárie machista.
Para completar, nesta sexta (27) especialistas recomendaram que
a Olimpíada seja retirada do Rio, ou adiada, devido ao zika. Descontado
o exagero que ignora a sazonalidade do mosquito, é isso: somos para o
mundo uma desgraça de país, um antro de infecções e corrupções.
Viramos uma terra na qual a melhor escapatória reside no aeroporto
internacional mais próximo. Esqueça a Belíndia: nessas horas vivemos na
Índia proverbial dos anos 1970.
extraídaderota2014blogspot
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