Nelson Motta: O Globo
Entre palavrões e golpes baixos, bandos de bandidos trocam tiros e vão
matando uns aos outros até que não sobre ninguém. É um enredo recorrente
nos filmes de Quentin Tarantino que, metaforizando balaços e facadas em
delações e traições, se está vendo em tempo real no Brasil da
Lava-Jato. Como na clássica cena tarantiniana, vários pistoleiros estão
com armas apontadas uns para os outros sem que ninguém tente atirar
primeiro, os marginais brasileiros abrigados nas organizações
político-criminais estão armados de áudios, dossiês e vídeos que podem
levar à morte política de inimigos.
Conhecendo os métodos e práticas de Eduardo Cunha, imagine-se o arsenal
de provas devastadoras que armazenou sobre todos que “ajudou” e agora
cumprem suas ordens, desestimulando qualquer traição com vinganças
sangrentas e cruéis, como num filme de Tarantino. A diferença é que
Cunha, com o que está provado até agora, já estaria preso há muito tempo
se vivesse na terra de Tarantino.
A caixinha de segredos de Renan provoca calafrios no Congresso. É
inesquecível sua performance na sessão decisiva que cassaria o seu
mandato no Senado, caminhando pelo plenário como um caubói e brandindo
uma pasta com dossiês sobre os colegas, ameaçando até o probo senador
Pedro Simon. Tocou o terror e foi absolvido, agora enfrenta as batalhas
finais. Sua arma fatal é a memória.
Entrou para a história o duelo de morte entre os chefões Antonio Carlos
Magalhães e Jáder Barbalho, no caso da violação do painel do Senado.
Depois de um tiroteio de acusações, tiveram que renunciar aos mandatos
para evitar as cassações. Embora muitos senadores que votariam as
cassações tivessem rabos presos com ACM ou com Jáder, ou com os dois.
Nossa estranha forma de esperança é que os malfeitores das várias
facções que se enfrentam em guerra pelo poder, ou para não serem presos,
se incriminem e eliminem uns aos outros, como num filme de Tarantino,
para que o nosso mundo político seja, ao menos parcialmente, despoluído e
saneado, abrindo espaço para novas lideranças.
Mas nada garante que não sejam ainda piores do que as atuais.
extraídaderota2014blogspot
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