José Casado: O Globo
A primeira é que há um desastre nas finanças públicas, cujo custo em
janeiro estava estimado em R$ 30,5 bilhões, há duas semanas passou para
R$ 96,4 bilhões e, há 48 horas, saltou para R$ 170,5 bilhões.
A segunda novidade é um governo provisório composto por 11 partidos,
donos de 70% dos votos no Congresso, supostamente comprometidos em
carregar o presidente interino a um mandato efetivo.
A terceira é que no Palácio do Planalto está um líder que se apresenta
como missionário. Ele disse ontem: “Eu quero cumprir uma missão. Eu
tenho a impressão... acho que Deus colocou na minha frente para que eu
cumpra essa missão, ou agora em um breve período, em dois anos e meio,
para que eu ajude a tirar o país da crise.”
Como sabem todos os que partilham com Michel Temer as orações do PMDB,
Deus não tem nada com isso — ou, na melhor hipótese, não quer se
envolver.
A crise foi cavada pelo consórcio partidário que, desde o fim da
ditadura militar, se alterna na hegemonia do poder sobre os cofres
estatais — PMDB, PT, PSDB, DEM e organizações satélites.
Anunciar que é proibido gastar depois de uma ruinosa gestão, como a de
Dilma Rousseff, sinaliza saudável preocupação em recuperar a
racionalidade perdida na administração pública.
Limitar os gastos à inflação passada é velho sonho de economistas e pesadelo permanente de políticos.
Matematicamente significa drástica redução em despesas de saúde e
educação, por exemplo, setores nos quais de cada R$ 3 gastos apenas R$ 1
chega aos usuários de serviços públicos.
A proposta de emenda constitucional (PEC) anunciada para a próxima
semana deverá trazer um congelamento salarial, extensivo ao estados e
municípios — sem caixa até para pagar salários. Legislativo e Judiciário
estarão incluídos.
É possível imaginar o tamanho da resistência dentro e fora do Congresso,
ainda mais estimulada pelo atual sentimento raivoso da oposição.
O missionário-presidente vai precisar rezar muito mais do que tem feito.
Principalmente, suplicar para que os 11 partidos que coabitam o poder
mantenham a promessa de confirmar no Congresso os dois terços de votos
de que dizem dispor a favor do governo Michel Temer.
extraídaderota2014blogspot
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