Flávia Barbosa: O Globo
Estrategista da campanha de Bill Clinton em 1992, James Carville cunhou a
expressão "É a economia, estúpido!" para, de forma direta, explicar o
papel central do desempenho da atividade econômica para o sucesso de um
presidente na busca pela reeleição ou da vantagem de seu oponente em
batê-lo na corrida sucessória.
A frase bem poderia ser a síntese da missão do presidente interino,
Michel Temer, nos prováveis dois anos e meio que tem de governo. Sua
gestão tem aval dos agentes econômicos porque eles acreditam que sua
administração -- expectativa reforçada na formação de uma equipe
econômica de alto gabarito técnico -- será capaz de travar o crescimento
da dívida pública brasileira, mesmo lidando com R$ 163,9 bilhões de
déficit nas contas públicas em 2016. E que vai se empenhar pela retomada
do protagonismo do setor privado.
O pacote anunciado há pouco tem boas propostas que, no longo prazo,
podem fazer o país voltar a gerar superávits primários (economia para
pagamento de juros da dívida) e reorganizar as finanças públicas. O
governo propôs um teto para a expansão das despesas. Ministro da
Fazenda, Henrique Meirelles melhorou a proposta do governo Dilma, ao
limitar o crescimento à inflação do ano anterior e propor que as
despesas com Educação e Saúde estejam vinculadas a este teto. Se
comprometeu com o envio da reforma da Previdência. E sabe-se que a atual
administração defende a ampliação da Desvinculação de Receitas da União
(DRU) para 30%, criando a mesma possibilidade para estados e
municípios.
Além disso, o time de Temer se comprometeu com a Lei de Responsabilidade
das Estatais, que tem regras de governança também para os fundos de
pensão que elas patrocinam, e acenou com um alívio à Petrobras,
prometendo empenho pelo projeto que desobriga a combalida petrolífera a
participar de todos os projetos de exploração da camada do pré-sal.
O que todas essas boas medidas têm em comum? Elas precisam passar pelo nosso volúvel Congresso Nacional.
Apesar de Temer, no anúncio, ter cobrado a oposição capitaneada pelo PT _
afirmando que podem discordar, mas não inviabilizar seus 180 dias
iniciais de governo, pois sua interinidade "não pode parar o país" _,
seu desafio não é vencer o que se opõem, e sim tornar sólida uma
coalizão que, hoje, é de ocasião. Isso ficou bem claro ontem, quando o
Palácio do Planalto, após o grampo que derrubou Romero Jucá, teve de
botar na rua uma operação de guerra para convencer uma série de partidos
a votar a nova meta fiscal de 2016. Especialmente as siglas do chamado
centrão e aquelas que posicionaram-se pela independência, como o PV.
Quase dobrar a previsão do déficit deste ano e ressaltar a situação de
emergência por que passa a economia nacional são dois bons cantos da
sereia para convencer os parlamentares da necessidade de aprovar a meta
fiscal. Mas esta estratégia tem prazo de validade. Temer sem dúvida
precisa passar pelo teste de hoje à tarde _ aval ao rombo de R$ 163,9
bilhões _ para provar que está no caminho certo da formação de uma
coalizão ampla e permanente. Mas a apreciação das medidas mais
estruturantes, e que portanto mexem com interesses e direitos mais
arraigados, movimentando os cálculos políticos do Congresso, serão sua
verdadeira prova de batismo.
* Flávia Barbosa é editora de Economia
extraídaderota2014blogspot
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