Reinaldo Azevedo: Folha de São Paulo
Qualquer pessoa que tenha lido com um mínimo de atenção a transcrição
dos diálogos de Sérgio Machado com Romero Jucá, Renan Calheiros e José
Sarney sabe que não há neles absolutamente nada de politicamente
relevante.
Se há outros com conteúdo bombástico, não sei. É bom que tenham vindo a
público. Demonstram que há ao menos o risco de o Brasil dar certo... Os
únicos a encontrar um sentido transcendente –isto é, que vai além da
conversa mole– nos diálogos foram os petistas e os colunistas do Velho
Regime. Vamos ver.
Um jurista de muitas lentes ou um rábula de porta de cadeia sabem que
não há neles crime nenhum. De ninguém. Era forçoso que Jucá fosse apeado
do Planejamento, mas não porque tenha atentado contra a Lava Jato ou a
saúde das instituições. Aquele papo é incompatível com o cargo que
ocupa. Falta de decoro ou de vergonha não é crime.
Síntese da conversa do ex-ministro com Machado: ameaçado, anteviu que
tudo se resolveria quando Michel Temer fosse presidente. Tanto o
interlocutor não acreditava, notem, que estava gravando o bate-papo para
fabricar uma prova ou um instrumento de chantagem.
E com Renan? O presidente do Senado acha necessário disciplinar as
delações premiadas. Eu também. Provavelmente, queremos disciplinas
distintas. Nos dois casos, onde está o crime? E José Sarney? A conversa é
ainda mais estratosférica. O ex-senador promete tornar o interlocutor
imune a Sergio Moro. Como? Ninguém faz a menor ideia. Nem o lírico de
Saraminda.
Nesta mesma Folha, li que um emissário de Temer esteve com
procuradores para desfazer a boataria de que, se presidente, o então
vice iria frear a Lava Jato. Referindo-se às gravações e ao encontro, os
petistas gritaram: "Conspiração! Dilma foi vítima de um golpe!".
Segundo os petralhas, os ditos "golpistas" tramavam contra a ora
Afastada tanto quando manifestavam o desejo de frear a operação como
quando diziam que esta é intocável. Cobrar raciocínio lógico de
esquerdistas é perda de tempo. Seu negócio é ganhar um debate mesmo sem
ter razão. Entendem que dialética é a arte de fazer a mentira brotar da
verdade e a verdade, da mentira. Em qualquer dos casos, trapaça.
E por que os vazamentos me levaram a pensar que até há o risco, ainda
que não assim tão grande, de o Brasil dar certo? Pense comigo, leitor
amigo. Já vieram a público gravações com Lula, Dilma, Jaques Wagner,
Jucá, Renan e Sarney.
Estamos falando de uma presidente da República, dois ex-presidentes, um
ministro de Estado e dois dos mais poderosos senadores. Os membros dessa
plêiade pertencem aos maiores partidos do Brasil. Todos impotentes. O
Brasil já melhorou!
Todos estavam empenhados em dar um jeito na Lava Jato. E, no entanto, o
que cada um deles pôde fazer, além de nada? A suposição de que as falas
de Jucá, Renan e Sarney evidenciam a natureza golpista da deposição de
Dilma é só um atestado de má-fé e de vigarice intelectual.
Elas não fabricaram o crime de responsabilidade cometida pela Afastada
nem orientaram o voto de deputados e senadores. Não são nem causa nem
consequência do fato jurídico e do fato político.
De resto, eu tenho o direito de dizer ao telefone que já acertei o
conteúdo da próxima encíclica com o papa Francisco. Agora é só torcer
para ninguém divulgar a minha conversa.
Hora de mudar de assunto.
extraídaderota2014blogspot
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