Jornalista Andrade Junior

sábado, 28 de maio de 2016

"Não cabem dois primeiros-ministros no mesmo semi-parlamentarismo"

 Helena Chagas: Com Blog do Noblat - O Globo

Todo mundo sabe que o chanceler José Serra é, de longe, o nome mais preparado para substituir Romero Jucá no Planejamento. Além das credenciais técnicas – ocupou a função no primeiro mandato de Fernando Henrique -, tem poder de fogo político como senador do PSDB de São Paulo. Mas Serra não foi convidado e dificilmente será. Afinal, não cabem dois primeiros-ministros no mesmo semi-parlamentarismo.
Fica claro a cada dia que, na montagem feita por Michel Temer para seu governo interino – por ele mesmo definido como uma espécie de semi-parlamentarismo -, o posto de primeiro-ministro é hoje do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Com a saída de Romero Jucá no rastro das gravações do novo homem-bomba da República, Sérgio Machado, Meirelles ficou ainda mais forte. É agora o único fiador do governo Temer junto ao PIB.
Tem lógica, portanto, que tenha autonomia para implementar suas propostas e poder para influir nas nomeações para a equipe. As emas do Alvorada, as carpas do espelho d’água do Itamaraty e todos os que participaram da primeira reunião ministerial de Temer sabem que a dupla Meirelles-Serra funciona como mistura de água com azeite: nada a ver. Contam colegas de ministério que, na ocasião, Serra tentou dar alguns palpites na economia, recebidos com muxoxos por Meirelles.
O presidente interino sabe que o ministro da Fazenda não quer Serra no Planejamento e não vai forçar a barra. Quebrou a cabeça para encontrar um lugar à altura de Serra na equipe, um Ministério de Relações Exteriores turbinado com o comércio exterior, e para convencê-lo a aceitar.  É um cargo importante, que não tira completamente o senador do núcleo decisório do governo, mas que o mantém a uma distância regulamentar de Meirelles, que tem as rédeas da economia e o posto de primeiro-ministro informal.
A migração do senador tucano para o Planejamento iria, certamente, desfazer esse precário equilíbrio e tornar a disputa aberta e prejudicial ao governo. O que não quer dizer que tudo permanecerá como está.
Se Temer for confirmado como presidente em definitivo, e Meirelles entregar o que promete, aprovando reformas estruturais no Congresso, mudando a trajetória da dívida pública e resgatando a confiança de investidores e agentes econômicos, consolida-se não apenas como primeiro-ministro informal desse arremedo de parlamentarismo. Se a economia começar a dar sinais de recuperação, pode ganhar cacife para se tornar candidato à Presidência em 2018, num movimento parecido ao do Fernando Henrique do Real no governo Itamar Franco.
E Serra? Poderá até ser um grande chanceler. Se Meirelles der um jeito na economia, porém, o tucano perde o primeiro lugar na fila como candidato preferido do governo em 2018 e vai procurar outra turma.
Esse cenário sofreria modificações significativas se as coisas não andarem tão bem assim na economia, o que não é também improvável. No caso de um desempenho mais ou menos, em que a política de Meirelles segure as contas públicas e evite o pior, mas não consiga injetar ânimo nos investimentos e nem fazer a economia dar sinais de crescimento, a candidatura do ministro da Fazenda perde força. Do outro lado da gangorra, sobe Serra como opção governista em 2018.
A escolha do candidato do campo governista, se houver governo minimamente sustentado até lá, depende do presidente mas está sujeita ao imponderável e aos humores de momento. Quem não se lembra que Itamar, nos idos de 1994, pensou primeiro no então ministro da Previdência, Antônio Britto, para sua sucessão? Depois de uma recusa é que fixou-se no nome de Fernando Henrique.
Não se descarta também que, fracassando o primeiro tiro de Henrique Meirelles para salvar a economia - ainda que por falta de colaboração do Congresso ou razões alheias a seu desempenho - Temer tente recomeçar com novo ministro da Fazenda. Quem? José Serra. E aí o céu passa a ser o limite para o tucano.
E se der tudo errado? Se der tudo errado para o governo Temer (por exemplo, Dilma Rousseff reassumir), obviamente não haverá 2018 nem para Serra, nem para Meirelles e nem para mais ninguém a ele ligado.
São muitos os cenários em aberto, sobretudo para os integrantes de um governo ainda provisório. Até mesmo o sedutor discurso de semi-parlamentarismo de Temer pode sair de cena, bem como seus eventuais primeiros-ministros, se ele se consolidar e fortalecer como presidente da República – quem sabe animando-se a entrar na disputa de 2018 para continuar usufruindo das delícias do presidencialismo...
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT

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