Sérgio Sá Leitão: Folha de São Paulo
Há bons argumentos favoráveis e bons argumentos contrários à existência
de um ministério exclusivo para a cultura, à fusão entre o Ministério da
Cultura e o da Educação, à fusão entre o Ministério da Cultura, o do
Esporte e o do Turismo e a outros modelos de arranjos institucionais.
Na França, referência internacional em política cultural, há o
Ministério da Cultura e da Comunicação. No Reino Unido, onde se valoriza
o impacto econômico e social das indústrias criativas, há o
Departamento de Cultura, Mídia e Esporte, com status de ministério.
Na verdade, poucos países apresentam atualmente um ministério exclusivo
para a cultura. O que não significa, necessariamente, desprezo ao setor
ou ausência de reconhecimento da importância da cultura em suas
múltiplas dimensões. A cultura, como se sabe, é muito maior do que o
Ministério da Cultura.
Ter um ministério exclusivo também não significa, necessariamente, que o
poder público valorize a cultura, compreenda de fato seu papel
estratégico e realize uma política à altura. Os cinco anos e alguns
meses de Dilma Rousseff na Presidência demonstraram um divórcio entre
retórica e prática em diversas áreas, incluindo a cultura.
A despeito do discurso bem-intencionado, sobretudo nas campanhas
eleitorais, tivemos um período ruim para a política cultural, de muita
discussão e pouca ação, em que o orçamento do MinC foi progressivamente
reduzido (em termos proporcionais ao orçamento total) e diversos
programas foram descontinuados, à exceção do audiovisual.
Como sinal de austeridade, diante da recessão que vigora no Brasil e do
gigantesco deficit fiscal herdado, o novo governo anunciou a redução do
número de ministérios.
Formalizou a fusão entre o Ministério da Cultura e o da Educação,
provocando a ira de parte relevante do setor cultural. No último sábado
(21), o presidente interino Michel Temer decidiu recriar a pasta da
Cultura.
Foi uma medida necessária para diminuir a temperatura da crise que se
instalou. No entanto, assim como a fusão anteriormente anunciada, não
representa um fato necessariamente positivo ou negativo.
A questão não é institucional; o que mais importa para a sociedade é um
conjunto de definições concretas que encerre o divórcio entre retórica e
prática no que diz respeito à política pública de cultura.
Trata-se de apontar claramente, por meio de ações, qual é o papel da cultura para a gestão Temer.
A intenção, afirmou o presidente interino, é impulsionar a área. A
indicação de Marcelo Calero para o cargo de ministro da Cultura indica a
vontade de transformar o desejo em realidade. É um gestor experiente,
que soube manter e aperfeiçoar a bem-sucedida política implementada em
minha gestão à frente do Secretaria Municipal de Cultura do Rio de
Janeiro, entre 2012 e 2015, no governo Eduardo Paes.
Janeiro, entre 2012 e 2015, no governo Eduardo Paes.
É preciso formular uma política objetiva, baseada na ideia de que a
cultura pertence ao campo da sociedade e acontece no plano local. Ao
poder público cabe estimular, promover e proteger, e não produzir.
Deve-se levar em conta a dimensão simbólica, econômica e cidadã. E ter
orçamento compatível, capacidade operacional, centralidade entre as
políticas governamentais e parceria com os municípios.
A cultura pode ser um antídoto contra a recessão, por sua capacidade de
gerar renda, emprego, inclusão e felicidade. Portanto luz, câmera ação!
EXTRAÍDADEROTA2014BLOGSPOT
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