Luís Francisco Carvalho Filho Folha
Duas semanas dias depois do afastamento da presidente da República, o Brasil vive clima de surpreendente normalidade. Aos poucos, o governo provisório se encaixa e difunde o sentimento de que Dilma Rousseff faz parte de um passado remoto. Há, por conta da ideologia partidária e da inábil extinção do Ministério da Cultura, a rebelião de artistas (manifestações em Cannes e no Teatro Oficina, ocupações de prédios da Funarte), mas o movimento não é aparentemente capaz de atrapalhar o dia a dia ou de inibir a força gravitacional da nova administração, seu poder de distribuir verbas e cargos.
O conservadorismo cafona de Temer não é tão diferente do conservadorismo cínico de Dilma. O novo governo tem homens investigados pela Lava Jato? O que caiu também tinha. O novo governo corteja o baixo clero parlamentar para obter apoio no processo legislativo? O governo anterior também fazia do toma lá dá cá, inclusive com a bancada evangélica, receita de sobrevivência. E as presenças de Meirelles, Jucá, Kassab, Geddel, Barbalho ou Picciani não representam novidade política do ponto de vista da estratégia petista de governança.
SEM NOVIDADES
A vida segue. A tocha olímpica percorre as cidades. Já teve a Virada Cultural. A PF mantém Lula na alça de mira. O STF suspende a lei que autoriza o consumo da “pílula do câncer”. Pragmático, o PT, além de anunciar que um dia fará a autocrítica dos seus pecados, nem se opõe a alianças eleitorais com o próprio PMDB que, convenhamos, selou a sua derrocada.
Se o novo governo tem naturais dificuldades para se legitimar, Temer tem enquadrado, sem traumas, ministros que falam demais. O grande desafio desta semana foi o de identificar o tamanho real do deficit deixado pela gestão irresponsável de Dilma.
Não é que a presença de mulheres seja garantia de lisura e eficiência (Maria das Graças Foster e Dilma Rousseff, por exemplo, mostram isso), mas Michel Temer se esqueceu de que é importante tê-las no primeiro escalão. As nomeações de Maria Sílvia Bastos Marques, a primeira a comandar o BNDES, e de Flávia Piovesan, para a Secretaria de Direitos Humanos, serviram para aplacar o descontentamento feminino.
De novidade – além da equipe econômica que, por enquanto, agrada o mercado e cria expectativas de recuperação –, o novo ministro da Justiça sinaliza um padrão de lei e ordem inspirado nos governos do PSDB em São Paulo que pode ter impacto nacional.
ALEGAÇÃO DE GOLPE
A narrativa do golpe, que confere um pouco de oxigênio a Dilma, ilhada no Palácio da Alvorada, parece se esvair pelos ralos, sobretudo diante da inevitável comparação com a crise institucional que abala a admirável democracia venezuelana. A insistência retórica de Dilma lembra, de certa maneira, o esforço de Eduardo Cunha em explicar que ser beneficiário de trust não se confunde com a titularidade de conta corrente no exterior.
O museu de cera de Foz de Iguaçu retirou a imagem de Dilma Rousseff da sala de exibições, antecipando o que acontecerá com o seu retrato oficial depois de condenação pelo Senado por crimes de responsabilidade. O motivo não seria de natureza política, afirmou o diretor do pequeno e provinciano museu, mas sim a necessidade de manutenção preventiva no boneco. Será?
extraídadetribunadainternet
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