Mary Zaidan: Com Blog do Noblat - O Globo
Daqui a exatos 132 dias os brasileiros vão às urnas escolher prefeitos e
vereadores das 5.570 cidades do país. Mas, ainda que seja o pleito de
maior proximidade entre o eleitor e o eleito, a disputa municipal está
bem longe de despertar emoções. Perde feio para a crise econômica,
política e moral, para o desemprego e a corrupção. E seu calendário
mistura-se ao de votação, pelo Senado, do destino da presidente afastada
Dilma Rousseff.
Motivo adicional para que, contrariando a regra, as questões nacionais
tendam a suplantar o debate local pelo menos nas capitais e nos
municípios com mais de 200 mil habitantes. Essa é a aposta das maiores
siglas partidárias.
O recordista PMDB, que em 2012 elegeu 1.015 prefeitos e quase 8 mil
vereadores, crê que a assunção de Michel Temer à presidência, ainda que
em caráter temporário, dá ao partido chances de multiplicar a sua
presença não só em cidades de pequeno e médio porte, mas também nas
capitais. Terá candidatos em quase todas elas e joga suas fichas na
ex-petista e neo-peemedebista Marta Suplicy.
Se Temer for bem, o partido, com seus 2,4 milhões de filiados, arrebenta
a boca do balão. Se não, volta-se para o discurso municipalista que tem
garantido o êxito da legenda há anos.
Desprezada pelo PSDB de Geraldo Alckmin, que atuou nas prévias em favor
de João Dória, impondo um candidato sem qualquer tradição na política, a
cidade de São Paulo é crucial para o PT. Em resolução aprovada em 17 de
maio, o Diretório Nacional do partido afirma que concentrará forças na
árdua tarefa de reeleger Fernando Haddad, rejeitado por 56% dos
paulistanos de acordo com pesquisa Ibope de janeiro deste ano.
No documento, o PT até fala da importância de se ter programas locais,
mas quer mesmo é que as campanhas municipais sejam usadas para denunciar
o “golpe” engendrado pela “direita” e pela “mídia monopolizada”. Vai
continuar batendo nessa tecla à exaustão, tática sujeita a resultados
antagônicos: ou cola ou enche de vez a paciência do freguês.
As dificuldades do PT são gigantescas. O partido, com 1,58 milhão de
filiados, perdeu militância e quase 15% dos 630 prefeitos que elegeu em
2012. E, ainda que tenha obtido algum espaço com a cantilena de “golpe”
contra a presidente Dilma e do governo “ilegítimo” de Temer, jamais
conseguirá explicar nem aos mais cegos e fiéis seguidores por que se
atirou na lama da corrupção.
A Lava-Jato não só escancarou as relações indecentes do partido com o
“grande capital” - que o PT escorraça de público e adula no particular
-, mas chegou perigosa e ameaçadoramente perto do chefe supremo Lula,
investigado em Brasília, São Paulo e, em breve, pela equipe de Curitiba.
Algo constrangedor e improducente para os palanques que lulistas juram
que ele frequentará durante a campanha.
As investigações também são o ponto frágil do PMDB, que tem líderes como
o ministro Romero Jucá e o presidente do Senado, Renan Calheiros, além
do inimigo público nº 1, Eduardo Cunha, envolvidos em escândalos. Batem
forte no PP, que em 2012 elegeu nada menos do que 474 prefeitos, e
cutucam o passado do PSDB, legenda com quase 700 prefeitos eleitos e
mais de 50 arrebanhados nos dois últimos anos.
Mas nada é tão avassalador quanto a economia. É ela que dita o humor do eleitor.
Ainda que a devastação nas contas públicas tenha sido obra do PT,
convencer o eleitor será parada dificílima para qualquer um. Até porque
não há hipótese de sanar, em poucos meses, um rombo fiscal superior a R$
170 bilhões, gerar empregos e crescer. Estados e municípios continuarão
em colapso. E o espaço para mexer na qualidade dos serviços de que o
cidadão mais precisa, como saúde, transportes e segurança,
reduzidíssimo.
As eleições municipais deste ano tendem a continuar no fim da fila. Não
têm o glamour dos jogos olímpicos que começam em agosto. Muito menos
conseguem competir – por maior que sejam as rivalidades entre candidatos
locais – com os argumentos inflamados dos pró e anti-Dilma.
Mas é a partir delas que o país dirá se deseja ou não fazer a sua concertação política.
extraídaderota2014blogspot
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